quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Afinal, Qual o Melhor Vinho da Argentina?

Recentemente escrevi um texto tentando qualificar os melhores vinhos do Chile, no qual afirmei que, embora alguns vinhos chilenos tivessem excelente qualidade, os tops chilenos são hoje, em termos de pontuação média na crítica especializada, inferiores aos tops argentinos. Esta afirmativa despertou o interesse de saber quais, afinal, são os melhores vinhos da Argentina atualmente.

De novo, classificar vinhos não é uma tarefa fácil se você se basear em preferências pessoais. Assim, utilizei o mesmo critério que utilizei para os chilenos, ou seja: analisar a nota média que os tops argentinos receberam da Wine Spectator (WS) e do Robert Parker (RP).

O filtro inicial foi o mesmo utilizado para os chilenos, ou seja: só entraram na disputa os vinhos que tiveram ao menos uma nota maior ou igual a 95 da WS ou do RP. Como o número de vinhos após este filtro ainda era alto, apliquei dois outros filtros: só foram considerados vinhos que tiveram ao menos 10 avaliações (somadas as avaliações da WS e do RP) e só foram considerados vinhos que obtiveram uma média igual ou superior à menor média dos tops chilenos analisados no texto anterior.

Em um primeiro destaque, os vinhos argentinos que receberam as pontuações mais altas foram:
  •  Achaval Ferrer Finca Altamira, que recebeu 99 pontos do Parker na safra de 2009.
  • Vina Cobos Malbec Marchiori, que recebeu 99 pontos do Parker na safra de 2006.

É interessante lembrar que a maior nota obtida pelos chilenos havia sido 97 pontos. Ou seja, por enquanto, o placar está em Argentina 1 x 0 Chile.

Finalmente, vamos ao ranking dos vinhos mais pontuados da Argentina. Para definir este ranking tomamos a média da pontuação que estes vinhos receberam nas últimas dez safras avaliadas pela Wine Spectator e pelo Parker e aplicamos as mesmas penalidades aplicadas aos chilenos, ou seja, as penalidades aplicadas para vinhos que não tiveram ao menos oito safras analisadas em cada publicação foram:
  • Vinhos com 5 ≤ safras avaliadas ≤ 7: menos 0.5 ponto na média obtidos.
  • Vinhos com 3 ≤ safras avaliadas ≤ 4: menos 1 ponto na média obtida.
  •  Vinhos com menos de três safras avaliadas: menos 1.5 pontos na média obtida.

Como resultado final, os campeões argentinos são:
  1. Achaval Ferrer Finca Altamira: com 95.09 pontos em média, é o campeão da Argentina, além de ser um dos dois argentinos que receberam 99 pontos. Este é um vinho de Malbec feito a partir de velhas videiras (algumas com mais de 80 anos) em altitude de 1.050 metros, plantadas em pé-franco na região La Consulta no Vale do Uco em Mendoza. O rendimento é muito baixo, menos de 1/3 de uma garrafa de vinho por planta. O vinho é maturado em barricas novas de carvalho francês por 15 meses. As safras mais bem avaliadas foram: 2009 (com 99 pontos do Parker, embora tenha recebido apenas 92 pontos da WS), 2004 (com 98 pontos do Parker; não avaliada pela WS), 2008 (com 97 pontos do Parker e 94 da WS), 2006 (com 96 pontos do Parker e da WS), 2011 (com 96 pontos da WS e 95 do Parker), 2010 (com 96 pontos da WS e 93 do Parker) e 2007 (com 95.5 pontos do Parker e 95 pontos da WS). Ou seja, um campeão de estabilidade em termos de altas notas e, portanto, um excelente candidato para uma vertical.
  2. Vina Cobos Malbec Marchiori Vineyard: com 95.05 pontos de média, um empate técnico com o Achaval Altamira, este é o segundo vinho mais pontuado da Argentina. A safra de 2006 recebeu 99 pontos do Parker, pontuação só obtida por ele e pelo Achaval Altamira. Este é um vinho feito 100% com uvas Malbec provenientes das videiras mais antigas (80 anos ou mais) do vinhedo Marchiori, localizado no distrito de Perdriel em Lujan de Cuyo, Mendoza. A altitude deste vinhedo é de 980 metros. Nas últimas safras, o Cobos Malbec passou 18 meses em barrica de carvalho francês 100% novas. Além da safra 2006, outras safras excepcionais foram: 2005 e 2004 (ambas com 98 pontos do Parker e 94 da WS), 2003 (com 97 pontos do Parker e 95 da WS), 2002 (com 96 pontos do Parker e 95 da WS) e 2009 (com 96 pontos do Parker e 94 da WS). Mais um candidato a uma grande vertical.
  3. Catena Zapata Malbec Adrianna Vineyard: ainda em empate técnico com os dois primeiros, o Adrianna ficou com uma média de 94.57 pontos (mas recebeu 0.5 ponto de penalidade na média do RP por ter tido apenas 7 safras avaliadas – a média seria 94.78 sem esta penalidade). A presença de um Catena em 3º lugar fecha a tríade das vinícolas supertop da Argentina: Achaval, Cobos e Catena Zapata. Mais um vinho feito 100% com uva Malbec, neste caso proveniente do vinhedo Adrianna, que possui altitude em torno de 1.400 metros e está localizado no distrito de Gualtallary, na região de Tupungato em Mendoza. O Catena Adrianna é fermentado em barrica nova de carvalho francês e maturado 18 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram 2009 e 2004 (com 97 pontos do Parker e 94 da WS), 2005 (com 97 pontos do Parker e 93 da WS), 2008 (com 97 pontos do Parker e 92 da WS), 2007 (com 96 pontos do Parker e 95 da WS) e 2010 (com 96 pontos do Parker e 93 da WS). Outro excelente candidato para uma vertical. 
  4. Catena Zapata Malbec Argentino Vineyard: com 94.5 pontos de média, este outro exemplar da Catena aparece em 4º lugar, ainda em empate técnico com os primeiros (o Argentino foi penalizado em 0.5 ponto tanto na média do Parker quanto na da WS, o que significa que sua média sem penalização seria 95 pontos, o que o levaria para o 3º lugar). Mais um vinho feito de Malbec, agora com uvas provenientes dos vinhedos Adrianna (o mesmo utilizado no Catena Adrianna) e Nicasia, este último um vinhedo de 1.180 metros de altitude localizado no distrito de La Consulta na região de San Carlos em Mendoza. O Argentino também é fermentado em barricas novas de carvalho francês (como o Adrianna) e é maturado 24 meses em barricas novas de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram: 2004 (com 98+ pontos do Parker e 95 da WS), 2005 (com 97+ pontos do Parker e 95 da WS), 2007 (com 97 pontos do Parker e 94 da WS), 2008 (com 97 pontos do Parker e 93 da WS) e 2006 (com 96 pontos do Parker e 93 da WS). Até agora uma rotina, todos os vinhos com muitas safras bem pontuadas e excelentes candidatos a uma vertical.
  5. Catena Zapata Nicolas Catena: em 5º lugar aparece um exemplar da Catena Zapata produzido apenas em anos considerados especiais. Aqui temos um intruso no mundo dos vinhos top argentinos, pois ele é elaborado com um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec. Por exemplo, a safra de 2008 teve 65% de Cabernet Sauvignon e 35% de Malbec, com uvas provenientes dos vinhedos La Piramide (940 metros de altitude no distrito de Agrelo em Lujan de Cuyo, Mendoza), Domingo (1.130 metros de altitude, distrito de Villa Bastias, Tupungato, Mendoza), Adrianna e Nicasia. O vinho é fermentado parte em barrica nova de carvalho francês e parte em tanques de aço inox (50% e 50% na safra de 2008) e maturado 24 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram: 2004 (com 98+ pontos do Parker e 92 da WS), 2005 (com 98 pontos do Parker e 94 da WS), 2008 (com 98 pontos do Parker e 93 da WS), 2007 (com 98 pontos do Parker e 92 da WS) e 2006 (com 97 pontos do Parker e 93 da WS). Mais uma boa dica para uma vertical.
  6. Achaval Ferrer Malbec Finca Bella Vista: depois de três representantes da Catena Zapata temos de novo um representante da Achaval ocupando o 6º lugar, com média de 94.13 pontos (0.5 ponto de penalização na média do Parker). De novo um exemplar de Malbec, agora proveniente do vinhedo Bella Vista, com 100 anos de idade, localizado no distrito de Perdriel em Lujan de Cuyo, Mendoza, com altitude de 980 metros. O Bella Vista é maturado 15 meses em barricas 100% novas de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram: 2008 (com 98 pontos do Parker e 93 da WS), 2009 (com 98 pontos do Parker e 91 da WS), 2007 (com 96 pontos do Parker e 95 da WS) e 2011 (com 95 pontos do Parker e da WS).
  7. Catena Zapata Malbec Nicasia Vineyard: 93.78 pontos é a média do vinho que aparece em 7º lugar (0.5 ponto de penalização na média do Parker). Mais um Malbec da Catena Zapata fermentado em barrica nova de carvalho francês e maturado 18 meses em barrica nova de carvalho francês, com uvas provenientes do vinhedo Nicasia. As safras mais bem avaliadas são: 2007 (com 96 pontos da WS e 95 do RP), 2004 e 2005 (com 96 pontos do Parker e 95 da WS) e 2006 (com 94 pontos do Parker e 95 da WS).
  8. Bodega Noemia de Patagonia: aqui aparece um novo intruso na nossa lista, não pela uva, que continua sendo Malbec, mas pela região, uma vez que este vinho não é produzido em Mendoza e sim na Patagônia, no sul da Argentina (cerca de 1.000 km ao sul de Buenos Aires), em uma região denominada Vale do Rio Negro. A pontuação média obtida foi 93.57 (com 0.5 ponto de penalização na média do Parker). A fermentação ocorre em tanques de concreto e a maturação se dá por 20 meses em barricas novas de carvalho francês. As videiras possuem idade acima dos 80 anos e são plantadas em pé-franco (aliás, o que acontece em grande parte da argentina). As safras mais bem pontuadas são: 2011 (com 96 pontos do Parker e 95 da WS), 2009 (com 96 pontos da WS e não avaliada pelo Parker) e 2006 (com 96 pontos da WS e 89 do Parker).
  9. Achaval Ferrer Malbec Finca Mirador: em 9º lugar, com 93.42 pontos, aparece o último representante da tríade suprema da Argentina (Achaval, Cobos e Catena). Mais um Malbec, agora com uvas provenientes de vinhedo de mais de 90 anos (em pé-franco) localizado em Medrano – Mendoza. A maturação se dá por 15 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas são: 2004 (com 96 pontos do Parker e 94 da WS), 2008 (com 96 pontos do Parker e 93 da WS), 2011 (com 96 pontos da WS e 92 do Parker) e 2009 (com 96 pontos do Parker e 90 da WS).
  10. Alta Vista Alto: o nosso 10º colocado é o principal vinho da vinícola Alta Vista e só é produzido em anos considerados especiais. A pontuação média que este vinho obteve foi 93.27 pontos (com 0.5 ponto de penalidade na média do Parker). Ele é um blend de Malbec e Cabernet com predominância de Malbec; por exemplo, 75% de Malbec na safra de 2010, 80% na safra de 2009, 70% na safra de 2007 e 77% na safra de 2006. O vinho é maturado ao menos 16 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais pontuadas são: 2006 (com 95 pontos do Parker e 95 da WS), 2009 (com 95 pontos do Parker e 93 da WS) e 2010 (com 92 pontos do Parker e 95 da WS).
  11. Luca Nico By Luca Malbec: a vinícola Luca é o projeto solo de Laura Catena. Seu vinho Nico by Luca é um 100% Malbec produzido com uvas provenientes do vinhedo Paganotto (localizado em Altamira) e do vinhedo Rosas (localizado em La Consulta), ambos no Vale do Uco em Mendoza. As videiras possuem mais de 50 anos de idade. O tempo de maturação é de 18 meses em barrica nova de carvalho francês. A pontuação média obtida por este vinho foi 93.05 pontos (com 0.5 ponto de penalidade tanto na média do Parker quando na da WS). As safras mais bem pontuadas são: 2005 (com 95 pontos do Parker e 94 da WS) e 2004 (com 95 pontos do Parker e 93 da WS).
  12. Vina Cobos Malbec Bramare Marchiori: o 12º colocado nesta lista é o segundo representante da vinícola Cobos. Mais um 100% Malbec, com uvas provenientes do vinhedo Marchiori, em Perdriel, Lujan de Cuyo, Mendoza. As vinhas possuem mais de 50 anos de idade. O tempo de maturação é em torno de 18 meses em barrica de carvalho francês e americano, sendo entre 67% e 77% novos, dependendo da safra. A pontuação média obtida foi 92.8 pontos (com penalidade de 0.5 ponto na média do Parker). As safras mais bem pontuadas são: 2006 (com 97+ pontos do Parker e 92 da WS) e 2005 (com 96 pontos do Parker e 91 da WS).
  13.  Mendel Finca Remota: nosso 13º colocado também é 100% Malbec, com uvas provenientes de um vinhedo com altitude de 1.100 metros, localizado em Altamira, no Vale do Uco, em Mendoza. As vinhas são de pé-franco com 75 anos de idade. A safra de 2011 passou 12 meses em barrica nova de carvalho francês. A pontuação média obtida foi de 91.92 pontos. As safras mais bem pontuadas foram: 2008 (com 95 pontos do Parker e 92 da WS), 2009 (com 94+ pontos do Parker e 89 da WS), 2007 (com 94 pontos do Parker e 93 da WS) e 2006 (com 94 pontos do Parker e 92 da WS).
  14. Val de Flores: vinho 100% de Malbec de vinhedo localizado em Vista Flores, Vale do Uco, Mendoza. As vinhas possuem mais de 50 anos de idade. O vinho é fermentado em barrica nova de carvalho francês e maturado 18 meses na mesma barrica. A pontuação média obtida foi de 91.54 pontos (com penalidade de 1 ponto na média da WS). As safras mais bem pontuadas são: 2002 (com 95 pontos do Parker e 91 da WS) e 2005 (com 94 pontos do Parker, não pontuado pela WS).

Observando as descrições e características dos catorze vinhos acima listados podemos tirar algumas conclusões interessantes para os tops argentinos:
  1. A uva que realmente importa é a Malbec, com a Cabernet Sauvignon também merecendo destaque por causa do Nicolas Catena e do Alto.
  2. A região que importa é Mendoza, com a Patagônia aparecendo em um único vinho para quebrar a hegemonia de Mendoza.
  3. Em Mendoza há várias sub-regiões/distritos de destaque: La Consulta no Vale do Uco, Perdriel em Lujan de Cuyo, a região de Tupungato e outras.
  4. A barrica nova de carvalho francês é quase unanimidade no processo de maturação; a única exceção é o Bramare Marchiori, que também usa barrica americana e não usa 100% de barricas novas.
  5. A fermentação em barrica nova de carvalho francês é comum, particularmente, mas não somente, nos Catenas.
  6. O tempo de maturação em barrica está entre 15 e 24 meses (com exceção do Mendel que fica 12 meses), com tempo médio de 17.77 meses.
  7.  As videiras são velhas, entre 50 e 100 anos.
  8. Os vinhedos são de altitude, em torno de 1.100 metros.
  9. Em geral, o Parker pontua os vinhos da Argentina acima da pontuação da WS.
Voltando à comparação com o Chile:
  • A maior média da Argentina, 95.09, é 1.74 pontos maior que a maior média do Chile, 93.35: Argentina 2 x 0 Chile. 
  • A Argentina possui 9 vinhos com pontuação média maior que a maior média dos chilenos: Argentina 3 x 0 Chile.
  • Mas o Chile aparece com mais destaque na lista dos Top 100 da Wine Spectator: Argentina 3 x 1 Chile.

·      As pontuações obtidas pelos argentinos conseguem colocar 2 vinhos entre os 50 mais pontuados do mundo e outros 3 vinhos entre os 100 mais pontuados do mundo: Argentina 4 x 1 Chile.

Por fim, considerando apenas as análises feitas por Robert Parker, há 1.804 vinhos argentinos com 90 ou mais pontos, dentre os quais a média é de 91.49 pontos. Ou seja, se você for tomar um vinho por dia, vai levar quase cinco anos apenas para provar os vinhos argentinos que obtiveram pontuação maior ou igual a 90 pontos! Vamos começar logo então!

O resultado acima nos leva ao placar final da nossa comparação: Argentina 5 x 1 Chile. Ou seja, surpreendentemente, goleada da Argentina!

Um exercício de degustação interessante é pegar exemplares dos vinhos acima listados, preferencialmente de safras mais antigas, e partir para uma comparação prática!

Outro exercício interessante é apreciar degustações verticais destas preciosidades com o intuito de comparar a qualidade em safras distintas.

Boa degustação a todos.

E me chamem se forem partir para a prática!!!!


Brito. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Afinal, Qual o Melhor Vinho do Chile?

Os vinhos chilenos mais famosos talvez sejam o Don Melchor e o Almaviva; mas eles são realmente os melhores vinhos do Chile?

Responder a pergunta acima não é fácil, pois envolve gostos pessoais, além dos aspectos técnicos. Assim, vamos deixar os gostos pessoais de lado e vamos nos concentrar na análise que os vinhos chilenos vêm recebendo dos críticos, particularmente da Wine Spectator e do Robert Parker.

Para estabelecer um filtro inicial, vamos considerar apenas os vinhos chilenos que já receberam, em algum momento, ao menos uma nota igual ou superior a 95, que são os seguintes (em ordem alfabética):
  • Almaviva
  • Casa Lapostolle Clos Apalta
  • Chadwick
  • De Martino Vigno Single Vineyard la Aguada
  • Don Melchor
  • Montes Alpha M
  • Montes Folly
  • Sena
  • Terrunyo Carmin de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard
  • Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492

Em um segundo filtro, vamos descartar os vinhos que receberam análise da crítica apenas em algumas poucas safras. Neste critério, serão descartados:
  •  De Martino Vigno Single Vineyard la Aguada: apenas a safra de 2011 foi avaliada pelo Parker (95 pontos); nenhuma safra foi avaliada pela Wine Spectator.
  • Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492: apenas as safras 2010, 2009 e 2007 foram pontuadas pelo Parker (nenhuma safra foi analisada pela Wine Spectator), merecendo, respectivamente, 91, 93 e 97 pontos. Assim, embora este vinho tenha recebido a maior nota que um vinho chileno já mereceu (97 pontos), ele não será considerando na análise a seguir.
Em um primeiro destaque, os vinhos que receberam as pontuações mais altas entre os vinhos chilenos são:
  •      Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492: 97 pontos do Parker na safra de 2007, mas que foi descartado do ranking por ter poucas safras avaliadas.
  •    Terrunyo Carmin de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard, da vinícola Concha Y Toro, que recebeu 97 pontos do Parker nas safras de 2003 e 2005.

Finalmente, vamos ao ranking dos vinhos mais pontuados do Chile. Para definir este ranking tomamos a média da pontuação que estes vinhos receberam nas últimas dez safras avaliadas pela Wine Spectator e pelo Parker. As seguintes penalidades foram aplicadas para vinhos que não tiveram dez safras analisadas:
  •           Vinhos com 5 ≤ safras avaliadas ≤ 7: menos 0.5 ponto na média obtida.
  •           Vinhos com 3 ≤ safras avaliadas ≤ 4: menos 1 ponto na média obtida.
  •           Vinhos com menos de três safras avaliadas: menos 1.5 pontos na média obtida.

Finalmente, os campeões chilenos são:

  1. Don Melchor: com 93.35 pontos, é o campeão do Chile. Este é um Cabernet Sauvignon (com uma pequena contribuição de outras uvas, como 3% de Cabernet Franc na safra de 2010) produzido pela Concha y Toro com uvas provenientes do terroir de Puente Alto, no Vale do Maipo, nos pés da Cordilheira dos Andes. O Don Melchor é maturado em barrica de carvalho, com a safra de 2010 passando 15 meses em barrica de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram as de 2005 e 2003, ambas com 96 pontos da Wine Spectator. Este é um vinho frequente na lista dos 100 melhores vinhos do mundo da Wine Spectator: Safra 2010 (Top 9 em 2014), Safra 2005 (Top 12 em 2008), Safra 2001 (Top 4 em 2005), Safra 2003 (Top 4 em 2006), Safra 2000 (Top 26 de 2004). Ou seja, uma excelente escolha para uma degustação vertical!
  2. Montes Alpha M: com 93.32 pontos, em empate técnico com o Don Melchor, este vinho produzido pela Vina Montes é o 2º mais bem pontuado do Chile. Este é um vinho que utiliza um corte típico de Bordeaux, com cerca de 80% de Cabernet Sauvignon, 10% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e 5% de Petit Verdot (embora estes percentuais possam variar com a safra). O Montes Alpha M é produzido no terroir de Apalta, no vale do Colchagua. O Montes M também passa por maturação em carvalho, com a safra de 2011 tendo sido maturada por 18 meses em barrica nova de carvalho francês. A safra mais pontuada é a de 2010, com 96 pontos da Wine Spectator.
  3.  Montes Folly: em 3º lugar outro vinho da Vina Montes, também produzido no terroir de Apalta, no Vale do Colchagua. A pontuação média deste vinho nas últimas dez safras avaliadas foi de 93.19 pontos, o que o coloca em empate técnico com os dois primeiros (de fato, a pontuação média obtida foi de 93.38, o que o colocaria acima dos dois primeiros, mas ele foi penalizado com 0.5 ponto na média da Wine Spectator por ter apenas 6 safras avaliadas). Em termos de uva, aqui temos uma surpresa: um vinho de Syrah entre os melhores do Chile (que é famoso por seus Cabernets e Carmeneres)! O Montes Folly é maturado, tipicamente, 18 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram as de 2010 (95 pontos do Parker) e 2007 (95 pontos da Wine Spectator).
  4. Almaviva: o 4º colocado na nossa lista é um vinho produzido na vinícola de mesmo nome, que foi fruto de uma associação da chilena Concha y Toro com a francesa Baron Philippe de Rothschild. A pontuação média obtida pelo Almaviva foi de 93.05 pontos, o que também o coloca em empate técnico com os três outros vinhos acima. O Almaviva é mais um top chileno originário do terroir de Puente Alto, na parte mais alta do vale do Maipo. A fermentação ocorre em tanques de aço inox e a maturação em barricas de carvalho francês, com algumas safras passando apenas por barricas novas (ex.: 18 meses em barricas novas para a safra de 2011) e outras por dois tipos de barricas, como por exemplo: inicialmente 10 meses em barricas novas seguidos de 6 a 8 meses em barricas de 2º uso. O Almaviva também é um corte típico de Bordeaux, como ilustra a safra de 2011, composta de: 67% de Cabernet Sauvignon, 25% de Carmenere, 5% de Cabernet Franc, 2% de Merlot e 1% de Petit Verdot.  A safra mais pontuada foi a de 2009, que recebeu 96 pontos da Wine Spectator.
  5. Terrunyo Carmim de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard: o 5º colocado também é produzido pela Concha y Toro. De fato, a pontuação média deste vinho foi de 93.7 pontos, o que o colocaria em 1º lugar. No entanto, ele recebeu uma penalidade de 1 ponto na média do Parker (apenas 4 safras avaliadas) e 0.5 ponto da Wine Spectator (apenas 6 safras avaliadas), o que o levou para a média de 93 pontos e a 5ª colocação aqui apresentada (mas ainda em empate técnico com os demais). Como o nome diz, este é um vinho de Carmenere (uva emblemática do Chile), mas com contribuição de outras uvas, como exemplifica a safra de 2010: 86% de Carmenere, 7,5% de Cabernet Sauvignon e 6,5% de Cabernet Franc. As uvas Carmenere são provenientes do terroir de Peumo, no vale do Cachapoal. O Terrunyo também é maturado em barricas de carvalho francês, com 17 meses para a safra de 2010.
  6. Casa Lapostolle Clos Apalta: o 6º colocado é o único chileno que já mereceu a honra de ser eleito o melhor vinho do mundo pela Wine Spectator, o que ocorreu com a safra de 2005 no ano de 2008. Além desta, a safra de 2001 foi Top2 no ano de 2004, a safra de 2000 foi Top3 no ano de 2003 e a safra de 2003 foi Top44 no ano de 2006. Ou seja, o Clos Apalta é outro campeão da Wine Spectator, até superior ao Don Melchor, que aparece no 1º lugar da nossa lista, e também outra excelente escolha para uma degustação vertical. A pontuação média obtida pelo Clos Apalta foi de 92.55 pontos. De novo um vinho do terroir de Apalta no vale do Colchagua. O Clos Apalta é um blend com base na Carmenere, mas que envolve também as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e, às vezes, Petit Verdot. Por exemplo, a safra de 2011 foi uma composição de 57% de Carmenere, 34% de Cabernet Sauvignon e 9% de Merlot; enquanto a safra de 2010 foi composta de 71% de Carmenere, 18% de Cabernet e 11% de Merlot; a Petit Verdot aparece com 3% na safra de 2009, por exemplo. O Apalta é fermentado em tonéis de carvalho francês e maturado em barricas novas de carvalho francês.  As safras mais pontuadas foram as de 2009 e 2005, ambas com 96 pontos da Wine Spectator.
  7.  Chadwick: o 7º e penúltimo colocado na nossa lista de Tops chilenos é o Chadwick, produzido pela vinícola Errazuriz. A pontuação média deste vinho foi 91.75 pontos, com a safra de 2008 recebendo a maior pontuação (96 pontos do Parker). De novo um vinho proveniente do terroir de Puente Alto, no vale do Maipo. O vinho é maturado em barricas novas de carvalho francês. O Chadwick é um vinho de Cabernet Sauvignon, com a participação eventual, em pequenos percentuais, de outras uvas. O tempo de maturação varia, mas 22 meses tem sido um número recorrente nas últimas safras. A fermentação é feita em tonéis de aço inoxidável.
  8. Sena: por fim, o Sena é o 8º colocado entre os Tops chilenos. A pontuação média que ele obteve foi de 91.5 pontos, com a safra de 2006 recebendo a máxima pontuação (95 pontos do Parker). De novo temos um blend típico de Bordeaux (a menos da Carmenere), com as uvas Cabernet Sauvignon, Carmenere, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot aparecendo em sua composição. Por exemplo, a safra de 2012 utilizou: 52% de Cabernet Sauvignon, 23% de Carmenere, 12% de Merlot, 7% de Malbec e 6% de Petit Verdot; enquanto a safra de 2011 utilizou 58% de Cabernet Sauvignon, 15% de Carmere, 15% de Merlot, 7% de Petit Verdot e 5% de Cabernet Franc. As uvas são provenientes do Valle do Aconcagua (uma nova região entre os tops analisados). O vinho é fermentado em tanques de aço inox (embora cerca de 6% seja fermentado em barricas novas de carvalho francês). A maturação se dá em barricas novas de carvalho francês, tipicamente por 22 meses.

Observando as descrições e características dos oito vinhos acima listados podemos assumir algumas conclusões interessantes para os tops chilenos:
  1. As uvas que realmente importam são a Cabernet Sauvignon e a Carmenere, com a Syrah também merecendo destaque por causa do Montes Folly.
  2. As regiões tops são os terroirs de Apalta no Vale de Colchagua e Puente Alto no Vale do Maipo, com o Vale do Aconcagua também merecendo destaque por causa do Sena.
  3. A barrica de carvalho francês é unanimidade no processo de maturação, principalmente as novas. 
  4. O tempo de maturação em barrica está entre 15 e 22 meses.

Vale ainda observar que, embora o Chile produza vinhos excepcionais, como os oito acima listados, a maior pontuação obtida por um vinho chileno, 93.35 pontos obtidos pelo Don Melchor, não é suficiente para coloca-lo na lista dos 100 vinhos mais pontuados do mundo, feito que a vizinha e arquirrival Argentina conseguiu.

Por fim, considerando apenas as análises feitas por Robert Parker, há 1.177 vinhos chilenos com 90 ou mais pontos, dentre os quais a média é de 90.9 pontos. Ou seja, se você for tomar um vinho por dia, vai levar mais de três anos apenas para provar os vinhos chilenos que obtiveram pontuação maior ou igual a 90 pontos! Então não perca tempo, mãos à obra!

Um exercício de degustação interessante é pegar exemplares dos oito vinhos acima listados, preferencialmente de safras mais antigas, e partir para uma comparação prática!

Outro exercício interessante é apreciar degustações verticais destas preciosidades com o intuito de comparar a qualidade em safras distintas.

Boa degustação e abraço a todos.


Brito. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Grand Tasting 2013 da Grand Cru


Grand Tasting 2013 da Grand Cru

O evento deste ano da Grand Cru ocorreu no dia 21 de Maio em São Paulo, no belo Nacional Clube Pacaembu, ao preço de R$ 220,00 por pessoa.
Ao todo foram mais de 200 vinhos disponíveis para degustação, organizados em 15 estações temáticas e 29 estações de produtores do mundo todo.
Uma excelente oportunidade para aprender um pouco sobre os diversos tipos de vinhos produzidos no mundo, principalmente nas conversas travadas com os produtores, que fornecem informações preciosas, em geral, de forma entusiasmada.
O único senão do evento é a duração muito curta, das 19:00 às 22:00 horas, o que torna o processo muito corrido. Em função do tempo exíguo, consegui degustar “apenas” 56 vinhos desta vez. Meus destaques para a noite foram:

Vinhos com boa relação custo/benefício (em ordem crescente de preço):
1)   Celler Besllum 2008 – Montsant, Espanha – 93 pontos do Parker, 4* na minha avaliação – R$ 74 – uma das melhores relações custo/benefício da noite.
2)      Klein Constantia Petit Frere 2010 – África do Sul – 3*+ na minha avaliação – R$ 88
3)      Viticcio Chianti Classico 2010 – Toscana, Itália – 4* na minha avaliação – R$ 95
4)      Delas Frères Vacqueyras 2011 – 4* na minha avaliação – Rhône, França – R$ 105
5)      Leyda Chardonnay Single Vineyard Lot 5 2011 – Chile – 90 pontos do Parker, 4* na minha avaliação – R$ 117
6)      Zorzal Field Blend 2010 – Argentina – 94 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 139
7)      Viticcio Chianti Classico Riserva 2009 – Toscana, Itália – 5* na minha avaliação – R$ 144
8)      Casajus Antigos Vinedos Tempranillo 2007 – Ribera Del Duero, Espanha – 93 pontos do Parker, 4* na minha avaliação – R$ 150

Vinhos mais Tops (em ordem crescente de preço):
1)      Pulenta Grand Cabernet Franc 2009 – Argentina – 93 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 166
2)      Produtore di Barbaresco 2007 – Piemonte, Itália – 90 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 182
3)      Cobos Bramare Cabernet Sauvignon Lujan de Cuyo 2010 – 93 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 187
4)      Nottola Nobile di Montepulciano Riserva Del Fattore 2007 – Toscana, Itália – 91 pontos da Wine Spectator, 4* na minha avaliação – R$ 203 (o 2009 é igualmente bom e o 2003 ainda melhor, mas apenas o 2007 está disponível para venda)
5)      Nottola IGT Rosso Anterivo 2008 – 92 pontos da Wine Spectator, 5* na minha avaliação – Toscana, Itália – R$ 203 (o 2007 é igualmente bom e o 2010 também merece destaque, mas apenas o 2008 está disponível para venda)
6)      Talenti Brunello di Montalcino 2007 – Toscana, Itália – 94 pontos do Parker, 4* na minha avaliação – R$ 257
7)      Glaetzer Godolphin Shiraz Cabernet Sauvignon 2007 – Austrália – 93 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 274
8)      Massolino Barolo 2007 – Piemonte, Itália – 90 pontos do Parker, 92 pontos da Wine Spectator, 4* na minha avaliação – R$ 278
9)      Glaetzer Anaperenna Shiraz Cabernet Sauvignon 2009 – Austrália – 94 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 297
10)   El Primer Racimo Primordium 2008 – Ribera Del Duero, Espanha – 95 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 310
11)   Altair Altair 2006 – Chile – 92 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 342
12)   Gosset Grand Rosé Brut – Champagne, França – 95 pontos da Wine Spectator, 4* na minha avaliação – R$ 373
13)   Clos Martinet 2006 – Priorato, Espanha – 96 pontos do Parker, 5* na minha avaliação – R$ 430
14)   Gosset Celebris Brut 1998 – Champagne, França – 96 pontos do Parker, 4* na minha avaliação – R$ 738
15)   Cobos Malbec 2007 – Argentina – 95 pontos da Wine Spectator – R$ 990

Se alguém se animar a ir no ano que vem...é só me avisar!
Abraço a todos,
Brito.

sábado, 16 de junho de 2012

O Vinho Mais Pontuado do Mundo


O VINHO MAIS PONTUADO DO MUNDO
M. CHAPOUTIER ERMITAGE L’ERMITE BLANC

Finalmente chegou a hora de divulgar o nome do vinho mais pontuado do mundo: o Ermitage L’Ermite Blanc do Chapoutier.

Isto mesmo, você não leu errado, o vinho mais pontuado do mundo é branco, não é de Bordeaux e não é da Borgonha. Surpreso? Eu também fiquei, e muito.

A região de Hermitage fica no norte do Rhône, que já apareceu na lista dos dez mais com a região de Côte Rotie, de onde vieram o 6º e o 7º colocados. Ou seja, a região que mais apareceu na lista dos dez vinhos mais pontuados, por incrível que pareça, foi o Rhône, com quatro representantes, três do norte e um do sul (Chateauneuf-du-Pape).

O L’Ermite é feito com uvas Marsanne provenientes de um vinhedo, denominado L’Ermite, que está no alto do morro em Hermitage, onde o solo é muito pobre e predominantemente formado de granito.

O L’Ermite apresenta aromas minerais, típicos do solo, de baunilha, amêndoas e frutas secas. O vinho, nas melhores safras, pode ser guardado por um período de 30 a 60 anos. Ou seja, aqui temos um autêntico representante do que chamamos de vinhos de guarda.

Considerando as últimas dez safras avaliadas, a pontuação média obtida por esta preciosidade foi de 97 pontos, com média de 98.1 pontos do Robert Parker (10 safras avaliadas) e 95.77 pontos da Wine Spectator (9 safras avaliadas). Ou seja, estamos falando realmente de um vinho excepcional, sem ressalvas, que vem obtendo notas altíssimas e de forma constante ao longo dos anos.

Para o Parker, as safras de 1999, 2000, 2003, 2004, 2006 e 2009 mereceram a nota máxima: 100 pontos. Para a Wine Spectator as safras de 2003, 2006 e 2009 mereceram 99 pontos (nenhuma ganhou 100 pontos desta revista).

Infelizmente, quando visitei a Chapoutier em 2010 não fui brindado com esta maravilha (embora tenha sido com outras). Logo, este é um vinho que precisa entrar com urgência na minha lista de prioridades.

O importador para o Brasil é a Mistral, mas o L’Ermite não aparece no último catálogo. Quem está representado a região, entre os brancos, no último catálogo da Mistral é o Chapoutier Ermitage L’Meal, ao preço de US$ 417,50, 15º colocado entre os mais pontuados do mundo.

Se você esbarrar nesta preciosidade por aí, compra uma garrafa para mim!!!!

Abraço a todos,

Brito.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O D.O.M Merece Mesmo a Posição de 4o Melhor Restaurante do Mundo?


O D.O.M Merece Mesmo a Posição de 4º Melhor Restaurante do Mundo?

O prestígio internacional do D.O.M vinha crescendo nos últimos anos, mas nada apontava para o grande resultado que ele teve este ano: a revista inglesa Restaurant, uma das mais prestigiadas do mundo da gastronomia, o classificou como o 4º melhor restaurante do mundo, uma posição realmente invejável.

Já tinha ido ao D.O.M algumas (poucas) vezes, mas não freqüentava o restaurante há pelo menos dois anos. Ao ler a reportagem sobre a classificação da Restaurant fiquei intrigado: será que ele realmente merece esta posição?

Ao consultar o Guia 4 Rodas, fiquei surpreso ao constatar que, na edição de 2012, o D.O.M não é considerado sequer o melhor restaurante do Brasil, posto assumido pelo Fasano, também em São Paulo.

A pergunta óbvia é: como um restaurante que não é reconhecido, pelo melhor guia local, como o melhor do Brasil pode ser o 4º do mundo, sendo que aquele que é o melhor do Brasil nem aparece nas listas internacionais!

Para tentar desvendar este mistério resolvi fazer uma pesquisa de campo: aproveitei uma ida a São Paulo, há algumas semanas, para assistir ao show do Buddy Guy, e fui ao D.O.M tirar a prova dos nove.

Cheguei ao restaurante às 00:20 de sábado para domingo, achando que ia encontrar tudo tranqüilo e encontrei......fila! Esperei até uma da manhã e finalmente assumi meu posto à mesa.

No cardápio, vários pratos tentadores, mas resolvi fazer o que é mais recomendado em restaurantes muito estrelados e badalados: pedir um menu degustação para ter oportunidade de sentir a “mão” do chef em vários tipos de pratos distintos.

Optei por um menu de 8 pratos, seguidos de queijo e sobremesas, harmonizados com nove vinhos distintos. O menu da noite foi:

1)      Camarão, chuchu, tamarindo e cajuína: prato de bom sabor, sem provocar grandes entusiasmos, bem harmonizado.
2)      Creme de carirú com marisco: aqui já apareceu a primeira exclamação da noite. Sabores ao mesmo tempo sutis e marcantes, muito bem acompanhados pelo vinho.
3)      Filé Curado, leite de castanha do Pará e priprioca: embora diferente, o prato não marcou, assim como o vinho também não. Ou seja, nada de especial por aqui.
4)      Ostras empanadas com tapioca marinada: um dos grandes pratos da noite, realmente surpreendente, muito bem harmonizado com o vinho.
5)      Consommé de cogumelos com ervas da horta e da floresta: uma delícia com vários cogumelos, flores diversas (comestíveis) e ervas da floresta amazônica. Marravilha, com excelente harmonização.
6)      Carapau com mini arroz e alga: mais um prato deslumbrante. O sabor e a crocância do peixe foram marcantes. De novo uma boa harmonização.
7)      Fettuccine de palmito à Carbonara: uma grande surpresa. Um “falso” fettuccine, feito não com massa, mas sim com palmito pupunha. Nova Marravilha, de novo com boa harmonização.
8)      Costelinha ao Malbec com mandioca Brás: uma das carnes de porco mais macias e saborosas que já comi, mas não se compara em termos de complexidade aos melhores pratos anteriores. De novo, boa harmonização.
9)      Aligot, para fazer a transição para o mundo dos doces: preparo com destaque e serviço artístico, mas sem entusiasmar muito.
10)  Mamão verde, iogurte e bacuri: meu tipo de sobremesa - suave, sutil e marcante.
11)  Torta de castanha do Pará com sorvete de whisky, curry, chocolate, sal, rúcula e pimenta: haja inventividade, mas acho que prefiro a sutileza da anterior.

Para acompanhar esta explosão de sabores, nove vinhos foram servidos:
1)      Pinot D’Alsace Botty-Geyl 2009 – França
2)      Aligoté Bouzeron 2007 – Borgonha – França
3)      Cuveé Singulier Domaine Tissot 2009 – França
4)      Arbois Savagnin Domaine Tissot 2007 – França
5)      Touraine Clos du Tue- Bouef Vigneron 2007 – França
6)      Lesca Chardonnay De Wetshof 2009 – África do Sul
7)      Morgon Marcel Lapierre 2009 – França
8)      El Pais Dequenehuao 2009 – chile
9)      Brumaire Chateau Bouscassé 2007 – França

Quase todos vinhos honestos, sem maiores pretensões, e que resultaram em boas harmonizações (houve duas exceções, que ficaram abaixo do mínimo esperado).

E, afinal, o D.O.M realmente merece o posto de 4º melhor do mundo? Porque ele é o 4º melhor do mundo e não o melhor do Brasil?

Primeiro ponto a observar: o D.O.M é, sem dúvida, um restaurante três estrelas, dentre os melhores que já comi, embora não possa considerá-lo o melhor.

Minha tentativa de resposta e explicação para as perguntas acima é a seguinte: o Alex Atala fez uma opção realmente inteligente, obviamente amparada por sua genialidade na cozinha: ele saiu do tradicional da cozinha internacional (francesa, italiana, etc..) e resolveu explorar pratos com ingredientes tipicamente brasileiros, mas com grande complexidade e sabor, tornando-o único aos olhos do mundo.

Ou seja, é provável que você prefira o Claude Troisgros ao D.O.M ou o Fasano ao D.O.M (eu mesmo tenho o Claude como o melhor restaurante do Brasil), mas no âmbito internacional há restaurantes que fazem pratos similares ao Claude e ao Fasano, mas com qualidade e requinte superior. No entanto, não há no mundo ninguém que tenha o requinte, a qualidade e a complexidade gastronômica do D.O.M, usando os ingredientes que ele usa e servindo os tipos de pratos que ele serve.

Em conclusão, a unicidade em termos gastronômicos que o D.O.M conseguiu, na minha modesta opinião, é que o tornou o 4º melhor do mundo sem ser o melhor do Brasil.

Mas afinal, vale a pena a visita? Sem dúvida que sim, mas prepare-se para pagar preços equiparáveis aos três estrelas franceses do Guia Michelin; nada mais nada menos que R$ 1.100 para uma única pessoa!

Relembrando aos amigos que a vida é curta e é uma só, tire as notas debaixo do colchão e faça seu próprio teste.

Abraço a todos,

Brito.

Os Melhores Vinhos da Argentina (e uma Comparação com os Melhores Chilenos)


Os Melhores Vinhos da Argentina
(e Uma Comparação com os Melhores Chilenos)

Depois de analisar os vinhos chilenos em busca de seus melhores representantes (veja texto “Afinal, quais são os melhores vinhos do Chile?”) é hora de fazer o mesmo para os vinhos de nossos hermanos argentinos.

O método e o critério foram os mesmos utilizados para os vinhos chilenos: a média, considerando safras de 1995 em diante, das notas obtidas nos sites do Robert Parker e Wine Spectator, com um bônus de 0.1 pontos por cada 5 estrelas recebida da revista Decanter e penalização para vinhos que tiveram poucas safras avaliadas (com penalidades variando de 0.5, para vinhos que tiveram entre 5 e 7 safras avaliadas em cada fonte, a 1.5, para menos de três safras avaliadas).

Encontramos treze vinhos que nos últimos 15 anos obtiveram ao menos uma nota igual a 95 ou superior: quatro da Bodega Catena Zapata, a campeã de aparições (Nicolas, Malbec Argentino, Malbec Adrianna Vineyard e Malbec Nicasia Vineyard), três da Achaval Ferrer (Finca Altamira, Malbec Finca Bella Vista e Malbec Finca Mirador), dois da Vina Cobos  (Cobos Malbec e Malbec Bramare Marchiori) e mais os vinhos Cheval de Andes, Alta Vista Alto, Bodegas Poesia e Val de Flores. Neste quesito, 13 a 8 para os argentinos contra os chilenos e, por enquanto, Argentina 1 x 0 Chile.

Como era de se esperar, a Malbec é a grande estrela, com uma participação secundária importante da Cabernet Sauvignon (em geral em blends com a Malbec).

Também como era de se esperar, a região que realmente merece atenção é a de Mendoza, onde são produzidos todos os treze vinhos que aparecem neste texto.

Dois vinhos mereceram uma nota 99: Achaval Ferrer Finca Altamira 2009 e Vina Cobos Cobos Malbec 2006. Dez vinhos receberam notas 98: Achaval Ferrer Finca Altamira 2004, Vina Cobos Cobos Malbec 2004 e 2005, Achaval Ferrer Finca Bella Vista 2008 e 2009, Catena Zapata Nicolas 2004, 2005, 2007 e 2008 e Catena Zapata Malbec Argentino 2004.

Lembrando que a maior nota dos chilenos foi um 97, Argentina 2 x 0 Chile.

Dos treze vinhos listados, quatro merecem destaque, com média final superior a 94:

Vina Cobos Cobos Malbec (média 94.94): o campeão argentino é um vinho feito com 100% de uva Malbec proveniente dos vinhedos Marchiori, localizados em Perdriel, Lujan de Cuyo, Mendoza. As parreiras do vinhedo possuem idade de 80 anos. A colheita é manual. O vinho é fermentado em aço inox e amadurecido 18 meses em barrica de carvalho francês 100% novas da tonelaria Taransaud. Atenção especial para as safras 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006, que obtiveram média 95.5 (safra 2002) ou 96 (todas as demais). Esta jóia pode ser encontra na Grand Cru, ao preço de R$ 950,00 a garrafa. Na adega tenho uma garrafa da safra 2006 esperando o momento certo de ser aberta, que ocorrerá em 2018. Tive a oportunidade de visitar esta vinícola quando fui a Mendoza. A simplicidade de suas instalações torna difícil acreditar que se possa produzir aqui um vinho tão espetacular. Provando que o que importa é ter uvas provenientes de um grande terroir, um enólogo competente e a determinação de fazer um grande vinho.

Catena Zapata Malbec Argentino (média 94.5): o vice-campeão argentino vem da vinícola campeã, a Catena Zapata.  Feito 100% com uvas Malbec, selecionadas dos melhores lotes dos melhores vinhedos da família Catena (a safra de 2008 veio dos vinhedos Adrianna e Nicasia), colhidas à mão. O vinho é fermentado em barricas novas de carvalho francês e, posteriormente, envelhece 24 meses em barricas 100% novas de carvalho francês. Ao contrário da simplicidade da vinícola Cobos, a Catena Zapata é uma das mais belas vinícolas que já visitei no mundo! Atenção especial para as safras 2004 (média 96.5), 2005 (média 96), 2007 (média 95.5) e 2008 (média 95). Para degustar esta maravilha é só gastar R$ 390,00 na Mistral. Infelizmente, este é um vinho que falta na minha adega. Comparado com o Cobos, temos aqui uma relação custo/benefício muito melhor.

Achaval Ferrer Finca Altamira (média 94.24): mais um vinho feito com 100% da uva Malbec, proveniente de um único vinhedo, com mais de 80 anos, em La Consulta, Mendoza. As uvas são colhidas manualmente. O processo de envelhecimento se dá em barricas de carvalho francês 100% novas, com tempo de maturação de 15 meses (para a safra 2008). Atenção especial para as safras 2004 (média 96.5), 2006 (média 96), 2008 (média 95.5), 2009 (média 95.5 com uma nota 99 do Parker) e 2007 (média 95.25). Este vinho é importado pela Expand e custa R$ 398 a garrafa. Na adega tenho uma garrafa da safra 2007 e outra da safra 2009. Esta é outra vinícola que vale a pena ser visitada: uma bela construção, uma bela vista dos Andes, uma bela degustação de seus melhores vinhos e uma recepção muito simpática.

Catena Zapata Nicolas (média 94.17): o quarto grande destaque da Argentina é de novo um vinho da vinícola Catena Zapata e o único representante que conta com a uva Cabernet Sauvignon: a safra de 2008 foi feita com 65% de Cabernet Sauvignon e 35% de Malbec. As uvas são provenientes de lotes selecionados dos principais vinhedos da Catena: La Pirâmide, Domingo, Adrianna e Nicasia. A fermentação em 2008 foi 50% em pequenos tanques de aço inox e 50% em barricas de carvalho. A maturação se dá por 24 meses em barricas de carvalho francês 100% novas. As safras de destaque são: 2005 (média 96), 2004, 2006 e 2007 (todas com média 95) e 2008 (que recebeu 98 pontos do Parker, mas não foi avaliada pela WS).  Para degustar, vá à Mistral e desembolse R$ 398. Na adega tenho uma garrafa da safra 2005, com ponto ótimo de degustação em 2022.

Pegando apenas os grandes destaques de cada país, outra vitória argentina: média de 94.46 pontos para seus quatro tops contra média de 92.4 para os três tops chilenos. Ou seja, aproximadamente 2 pontos a mais para os argentinos, o que não é pouco nesta faixa de pontuação. Placar parcial: Argentina 3 x 0 Chile.

As pontuações obtidas pelos argentinos colocam um deles entre os 50 vinhos mais pontuados do mundo e outro entre os 100 vinhos mais pontuados do mundo. Outra vitória dos hermanos frente aos chilenos.

Além dos quatro destaques acima, vale também destacar os seguintes vinhos, todos com média superior aos melhores chilenos: Catena Zapata Malbec Adrianna Vineyard (média 93.8), Catena Zapata Malbec Nicasia Vineyard (média 93.6), Achaval Ferrer Malbec Finca Bella Vista (média 93.4) e Achaval Ferrer Malbec Finca Mirador (média 93.36).

Ou seja, ao final, temos oito vinhos argentinos com média superior aos três melhores chilenos: Argentina 4 x 0 Chile.

Pelos vinhos que aparecem acima, percebe-se facilmente que as grandes vinícolas argentinas são a Catena Zapata e a Achaval Ferrer, que colocam vários vinhos entre os mais pontuados do país, seguidas pela Vina Cobos.

Surpreso com a goleada impetrada pela Argentina, resolvi pesquisar a gama de vinhos excelentes (com pontuação entre 90 e 94 pontos) e obtive o seguinte resultado: na Wine Spectator aparecem 545 vinhos argentinos contra 419 chilenos; no Robert Parker a vitória argentina é esmagadora, porém incontável, em função das características do mecanismo de busca do site. Placar final: Argentina 5 x 0 Chile.

O resultado acima não significa, obviamente, que devemos menosprezar os chilenos. Não se esqueça que a quase totalidade dos grandes argentinos que apareceram aqui são da uva Malbec, enquanto no Chile temos como grande destaque a Cabernet Sauvignon e os blends com esta uva.

Para tirar a dúvida, uma excelente degustação seria confrontar os tops chilenos com os argentinos, às cegas, e tirar a prova dos nove. Se alguém se habilitar, é só me convidar...

Abraços e boas degustações,

Brito.

domingo, 29 de abril de 2012

Afinal, quais são os melhores vinhos do Chile?


Afinal, quais são os Melhores Vinhos do Chile?

Uma pesquisa pelos sites do Robert Parker e Wine Spectator apontam 8 vinhos que, nos últimos 15 anos, receberam notas maiores ou iguais a 95: 1 vinho da vinícola Errazuriz (Kai) e dois outros relacionados com ela (Chadwick e Sena), 2 vinhos da Concha y Toro (Don Melchor e Terrunyo Carmim de Peumo Carmenere), o Almaviva, o Clos Apalta da Casa Lapostolle e o Montes Alpha M da Vina Montes.

Dos vinhos listados acima, os que receberam as maiores notas, 97, foram o Chadwick e o Terrunyo.

Mas afinal, quais são os mais pontuados? Para responder esta pergunta calculei a média, considerando safras de 1995 em diante, das pontuações obtidas por cada vinho (considerando Parker e Wine Spectator), acrescentei um bônus de 0.1 pontos por cada 5 estrelas recebida da revista Decanter e penalizei os vinhos que tiveram poucas safras avaliadas (com penalidades variando de 0.5, para vinhos que tiveram entre 5 e 7 safras avaliadas em cada fonte, a 1.5, para menos de três safras avaliadas).

O resultado final apontou três vinhos que praticamente empataram em termos de pontuação média (92.4):
  • Vinedo Chadwick, com destaque para as safras de 2007 e 2006. As duas safras de destaque são 100% Cabernet Sauvignon e ambas maturaram em barricas novas de carvalho francês (por 20 e 18 meses, respectivamente). Importado pela Expand - R$ 680. Na adega tenho a safra 2005 (95 pontos do Parker)
  • Almaviva, com destaque para as safras de 2005 e 2003. A Almaviva é uma associação entre Baron Philippe de Rothschild e Concha y Toro. O vinho é um blend típico de Bordeaux (com a inclusão da Carmenere). A safra de 2005 foi composta de 74% de Cabernet Sauvignon, 21% de Carmenere e 5% de Cabernet Franc, enquanto a safra de 2003 foi um blend de 73% de Cabernet Sauvignon, 24% de Carmenere e 3% de Cabernet Franc. Ambas as safras maturaram 18 meses em barricas novas de carvalho francês. O vinho é fermentado em tanques de aço inox. Disponível na Adega Curitibana – R$ 655. Na adega tenho as safras 2006 e 2007, ambas com 93 pontos da Wine Spectator.
  • Don Melchor, com destaque para as safras de 2006, 2005 e 2003. O Don Melchor nas safras de destaque é um blend de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, com a percentagem de Cabernet Sauvignon variando de 95 a 97%, ou seja, basicamente, um Cabernet Sauvignon. O vinho é maturado em barricas de carvalho francês, com tempo de maturação variando de 14 a 15 meses para as safras em destaque. Disponível na Adega Curitibana – R$ 412. Na adega tenho as safras 2003, 04, 05 e 07, com as safras de 2004 e 2007 pontuadas com 93 pontos da Wine Spectator e as demais com 96 pontos da mesma revista.
Além dos três vinhos acima, vale também destacar o Casa Lapostolle Clos Apalta, especialmente as safras 2005 (96 pontos e melhor vinho do mundo em 2008 pela Wine Spectator) e 2001 (95 pontos da Wine Spectator). A safra de 2005 é um blend de 42% de Carmenere, 28% de Cabernet Sauvignon, 26% de Merlot e 4% de Petit Verdot. A safra de 2001 é um blend com 80% de Merlot-Carmenere e 20% de Cabernet Sauvignon. O vinho é fermentado em tonéis de carvalho francês e amadurecido em barricas de carvalho francês 100% novas (24 meses para a safra de 2005 e 22 meses para a de 2001). No critério que adotei a pontuação média deste vinho é de 90,33 pontos. Disponível na Mistral por R$ 370. Vale destacar também a beleza desta vinícola (Clos Apalta), uma das mais belas que já visitei no mundo! Na adega tenho uma garrafa da famosa safra de 2005, aguardando o momento certo para ser aberta!

Interessante observar que a pontuação média obtida pelos melhores chilenos não coloca nenhum vinho deste país entre os 100 vinhos mais pontuados do mundo.

De qualquer forma, percebemos que há excelentes vinhos a serem explorados no nosso país vizinho.

Boas compras e boas degustações!

Abraço a todos,

Brito.