quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Afinal, Qual o Melhor Vinho do Chile?

Os vinhos chilenos mais famosos talvez sejam o Don Melchor e o Almaviva; mas eles são realmente os melhores vinhos do Chile?

Responder a pergunta acima não é fácil, pois envolve gostos pessoais, além dos aspectos técnicos. Assim, vamos deixar os gostos pessoais de lado e vamos nos concentrar na análise que os vinhos chilenos vêm recebendo dos críticos, particularmente da Wine Spectator e do Robert Parker.

Para estabelecer um filtro inicial, vamos considerar apenas os vinhos chilenos que já receberam, em algum momento, ao menos uma nota igual ou superior a 95, que são os seguintes (em ordem alfabética):
  • Almaviva
  • Casa Lapostolle Clos Apalta
  • Chadwick
  • De Martino Vigno Single Vineyard la Aguada
  • Don Melchor
  • Montes Alpha M
  • Montes Folly
  • Sena
  • Terrunyo Carmin de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard
  • Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492

Em um segundo filtro, vamos descartar os vinhos que receberam análise da crítica apenas em algumas poucas safras. Neste critério, serão descartados:
  •  De Martino Vigno Single Vineyard la Aguada: apenas a safra de 2011 foi avaliada pelo Parker (95 pontos); nenhuma safra foi avaliada pela Wine Spectator.
  • Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492: apenas as safras 2010, 2009 e 2007 foram pontuadas pelo Parker (nenhuma safra foi analisada pela Wine Spectator), merecendo, respectivamente, 91, 93 e 97 pontos. Assim, embora este vinho tenha recebido a maior nota que um vinho chileno já mereceu (97 pontos), ele não será considerando na análise a seguir.
Em um primeiro destaque, os vinhos que receberam as pontuações mais altas entre os vinhos chilenos são:
  •      Von Siebenthal Tatay de Cristabal 1492: 97 pontos do Parker na safra de 2007, mas que foi descartado do ranking por ter poucas safras avaliadas.
  •    Terrunyo Carmin de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard, da vinícola Concha Y Toro, que recebeu 97 pontos do Parker nas safras de 2003 e 2005.

Finalmente, vamos ao ranking dos vinhos mais pontuados do Chile. Para definir este ranking tomamos a média da pontuação que estes vinhos receberam nas últimas dez safras avaliadas pela Wine Spectator e pelo Parker. As seguintes penalidades foram aplicadas para vinhos que não tiveram dez safras analisadas:
  •           Vinhos com 5 ≤ safras avaliadas ≤ 7: menos 0.5 ponto na média obtida.
  •           Vinhos com 3 ≤ safras avaliadas ≤ 4: menos 1 ponto na média obtida.
  •           Vinhos com menos de três safras avaliadas: menos 1.5 pontos na média obtida.

Finalmente, os campeões chilenos são:

  1. Don Melchor: com 93.35 pontos, é o campeão do Chile. Este é um Cabernet Sauvignon (com uma pequena contribuição de outras uvas, como 3% de Cabernet Franc na safra de 2010) produzido pela Concha y Toro com uvas provenientes do terroir de Puente Alto, no Vale do Maipo, nos pés da Cordilheira dos Andes. O Don Melchor é maturado em barrica de carvalho, com a safra de 2010 passando 15 meses em barrica de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram as de 2005 e 2003, ambas com 96 pontos da Wine Spectator. Este é um vinho frequente na lista dos 100 melhores vinhos do mundo da Wine Spectator: Safra 2010 (Top 9 em 2014), Safra 2005 (Top 12 em 2008), Safra 2001 (Top 4 em 2005), Safra 2003 (Top 4 em 2006), Safra 2000 (Top 26 de 2004). Ou seja, uma excelente escolha para uma degustação vertical!
  2. Montes Alpha M: com 93.32 pontos, em empate técnico com o Don Melchor, este vinho produzido pela Vina Montes é o 2º mais bem pontuado do Chile. Este é um vinho que utiliza um corte típico de Bordeaux, com cerca de 80% de Cabernet Sauvignon, 10% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e 5% de Petit Verdot (embora estes percentuais possam variar com a safra). O Montes Alpha M é produzido no terroir de Apalta, no vale do Colchagua. O Montes M também passa por maturação em carvalho, com a safra de 2011 tendo sido maturada por 18 meses em barrica nova de carvalho francês. A safra mais pontuada é a de 2010, com 96 pontos da Wine Spectator.
  3.  Montes Folly: em 3º lugar outro vinho da Vina Montes, também produzido no terroir de Apalta, no Vale do Colchagua. A pontuação média deste vinho nas últimas dez safras avaliadas foi de 93.19 pontos, o que o coloca em empate técnico com os dois primeiros (de fato, a pontuação média obtida foi de 93.38, o que o colocaria acima dos dois primeiros, mas ele foi penalizado com 0.5 ponto na média da Wine Spectator por ter apenas 6 safras avaliadas). Em termos de uva, aqui temos uma surpresa: um vinho de Syrah entre os melhores do Chile (que é famoso por seus Cabernets e Carmeneres)! O Montes Folly é maturado, tipicamente, 18 meses em barrica nova de carvalho francês. As safras mais bem avaliadas foram as de 2010 (95 pontos do Parker) e 2007 (95 pontos da Wine Spectator).
  4. Almaviva: o 4º colocado na nossa lista é um vinho produzido na vinícola de mesmo nome, que foi fruto de uma associação da chilena Concha y Toro com a francesa Baron Philippe de Rothschild. A pontuação média obtida pelo Almaviva foi de 93.05 pontos, o que também o coloca em empate técnico com os três outros vinhos acima. O Almaviva é mais um top chileno originário do terroir de Puente Alto, na parte mais alta do vale do Maipo. A fermentação ocorre em tanques de aço inox e a maturação em barricas de carvalho francês, com algumas safras passando apenas por barricas novas (ex.: 18 meses em barricas novas para a safra de 2011) e outras por dois tipos de barricas, como por exemplo: inicialmente 10 meses em barricas novas seguidos de 6 a 8 meses em barricas de 2º uso. O Almaviva também é um corte típico de Bordeaux, como ilustra a safra de 2011, composta de: 67% de Cabernet Sauvignon, 25% de Carmenere, 5% de Cabernet Franc, 2% de Merlot e 1% de Petit Verdot.  A safra mais pontuada foi a de 2009, que recebeu 96 pontos da Wine Spectator.
  5. Terrunyo Carmim de Peumo Carmenere Pelmo Vineyard: o 5º colocado também é produzido pela Concha y Toro. De fato, a pontuação média deste vinho foi de 93.7 pontos, o que o colocaria em 1º lugar. No entanto, ele recebeu uma penalidade de 1 ponto na média do Parker (apenas 4 safras avaliadas) e 0.5 ponto da Wine Spectator (apenas 6 safras avaliadas), o que o levou para a média de 93 pontos e a 5ª colocação aqui apresentada (mas ainda em empate técnico com os demais). Como o nome diz, este é um vinho de Carmenere (uva emblemática do Chile), mas com contribuição de outras uvas, como exemplifica a safra de 2010: 86% de Carmenere, 7,5% de Cabernet Sauvignon e 6,5% de Cabernet Franc. As uvas Carmenere são provenientes do terroir de Peumo, no vale do Cachapoal. O Terrunyo também é maturado em barricas de carvalho francês, com 17 meses para a safra de 2010.
  6. Casa Lapostolle Clos Apalta: o 6º colocado é o único chileno que já mereceu a honra de ser eleito o melhor vinho do mundo pela Wine Spectator, o que ocorreu com a safra de 2005 no ano de 2008. Além desta, a safra de 2001 foi Top2 no ano de 2004, a safra de 2000 foi Top3 no ano de 2003 e a safra de 2003 foi Top44 no ano de 2006. Ou seja, o Clos Apalta é outro campeão da Wine Spectator, até superior ao Don Melchor, que aparece no 1º lugar da nossa lista, e também outra excelente escolha para uma degustação vertical. A pontuação média obtida pelo Clos Apalta foi de 92.55 pontos. De novo um vinho do terroir de Apalta no vale do Colchagua. O Clos Apalta é um blend com base na Carmenere, mas que envolve também as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e, às vezes, Petit Verdot. Por exemplo, a safra de 2011 foi uma composição de 57% de Carmenere, 34% de Cabernet Sauvignon e 9% de Merlot; enquanto a safra de 2010 foi composta de 71% de Carmenere, 18% de Cabernet e 11% de Merlot; a Petit Verdot aparece com 3% na safra de 2009, por exemplo. O Apalta é fermentado em tonéis de carvalho francês e maturado em barricas novas de carvalho francês.  As safras mais pontuadas foram as de 2009 e 2005, ambas com 96 pontos da Wine Spectator.
  7.  Chadwick: o 7º e penúltimo colocado na nossa lista de Tops chilenos é o Chadwick, produzido pela vinícola Errazuriz. A pontuação média deste vinho foi 91.75 pontos, com a safra de 2008 recebendo a maior pontuação (96 pontos do Parker). De novo um vinho proveniente do terroir de Puente Alto, no vale do Maipo. O vinho é maturado em barricas novas de carvalho francês. O Chadwick é um vinho de Cabernet Sauvignon, com a participação eventual, em pequenos percentuais, de outras uvas. O tempo de maturação varia, mas 22 meses tem sido um número recorrente nas últimas safras. A fermentação é feita em tonéis de aço inoxidável.
  8. Sena: por fim, o Sena é o 8º colocado entre os Tops chilenos. A pontuação média que ele obteve foi de 91.5 pontos, com a safra de 2006 recebendo a máxima pontuação (95 pontos do Parker). De novo temos um blend típico de Bordeaux (a menos da Carmenere), com as uvas Cabernet Sauvignon, Carmenere, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot aparecendo em sua composição. Por exemplo, a safra de 2012 utilizou: 52% de Cabernet Sauvignon, 23% de Carmenere, 12% de Merlot, 7% de Malbec e 6% de Petit Verdot; enquanto a safra de 2011 utilizou 58% de Cabernet Sauvignon, 15% de Carmere, 15% de Merlot, 7% de Petit Verdot e 5% de Cabernet Franc. As uvas são provenientes do Valle do Aconcagua (uma nova região entre os tops analisados). O vinho é fermentado em tanques de aço inox (embora cerca de 6% seja fermentado em barricas novas de carvalho francês). A maturação se dá em barricas novas de carvalho francês, tipicamente por 22 meses.

Observando as descrições e características dos oito vinhos acima listados podemos assumir algumas conclusões interessantes para os tops chilenos:
  1. As uvas que realmente importam são a Cabernet Sauvignon e a Carmenere, com a Syrah também merecendo destaque por causa do Montes Folly.
  2. As regiões tops são os terroirs de Apalta no Vale de Colchagua e Puente Alto no Vale do Maipo, com o Vale do Aconcagua também merecendo destaque por causa do Sena.
  3. A barrica de carvalho francês é unanimidade no processo de maturação, principalmente as novas. 
  4. O tempo de maturação em barrica está entre 15 e 22 meses.

Vale ainda observar que, embora o Chile produza vinhos excepcionais, como os oito acima listados, a maior pontuação obtida por um vinho chileno, 93.35 pontos obtidos pelo Don Melchor, não é suficiente para coloca-lo na lista dos 100 vinhos mais pontuados do mundo, feito que a vizinha e arquirrival Argentina conseguiu.

Por fim, considerando apenas as análises feitas por Robert Parker, há 1.177 vinhos chilenos com 90 ou mais pontos, dentre os quais a média é de 90.9 pontos. Ou seja, se você for tomar um vinho por dia, vai levar mais de três anos apenas para provar os vinhos chilenos que obtiveram pontuação maior ou igual a 90 pontos! Então não perca tempo, mãos à obra!

Um exercício de degustação interessante é pegar exemplares dos oito vinhos acima listados, preferencialmente de safras mais antigas, e partir para uma comparação prática!

Outro exercício interessante é apreciar degustações verticais destas preciosidades com o intuito de comparar a qualidade em safras distintas.

Boa degustação e abraço a todos.


Brito. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário