terça-feira, 28 de setembro de 2010

Uvas Tintas Clássicas - Cabernet Sauvignon


Uvas Tintas Clássicas – Cabernet Sauvignon

Existem centenas de tipos diferentes de uvas viníferas. Vamos começar nossa abordagem com as quatro uvas que são consideradas as clássicas entre as tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah. Todas estas uvas são de origem francesa, mas, como veremos, estão presentes em diversos outros países.

Neste primeiro texto vamos tratar da uva Cabernet Sauvignon, a mais importante das tintas clássicas.

A Cabernet Sauvignon é a uva tinta mais difundida no mundo, sendo plantada em praticamente todos os países produtores de vinhos tintos. A Cabernet possui alta concentração de taninos, favorecendo sua passagem pela madeira e resultando em vinhos com grande potencial de guarda. O espectro de aromas é muito amplo: frutas pretas, cassis, hortelã, eucalipto, cedro, couro, ameixa, violeta e outros. Em vinhos mais simples é comum a característica vegetal e aroma de pimentão, mas estes aromas não aparecem nos melhores rótulos.

A Cabernet é utilizada para a produção de vinhos cortados (blended), quando é misturada a outras uvas, ou varietais, quando aparece sozinha ou em grande predominância (por exemplo: 85%). O mais famoso blended é o denominado corte de Bordeaux, na França, que é composto de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot e, às vezes, Malbec. Este corte, normalmente, tem predominância de Cabernet Sauvignon nas subregiões de Bordeaux situadas à margem esquerda do rio Gironde e predominância de Merlot nas subregiões da margem direita.

Os principais vinhos feitos de Cabernet Sauvignon são os franceses de Bordeaux, na margem esquerda do rio Gironde (regiões de Médoc e Graves), e os americanos da Califórnia, principalmente do Napa Valley. Os franceses são largamente encontrados no mercado brasileiro, mas o mesmo não se pode dizer dos americanos, que são pouco difundidos por aqui.

Em segundo plano, mas ainda com grande destaque, estão os Cabernets provenientes da Austrália, onde às vezes são cortados com a uva Syrah (ou Shiraz, como ela é denominada na Austrália).

Finalmente, merecem destaque os vinhos feitos no Chile, Itália (onde são às vezes são cortados com Sangiovese), África do Sul e Argentina.

Boas dicas de Cabernet Sauvignon disponíveis no Brasil, além obviamente dos clássicos e caros Grands Crus de Bordeaux e dos chamados SuperToscanos da Itália, em ordem crescente de preço, são:

1) Felino (Vina Cobos) Cabernet Sauvignon 2007 – Argentina - Grand Cru – R$ 70 – RP91 – WS87

2) Kaiken Ultra Cabernet Sauvignon 2006 – Argentina – Vinci – US$ 36 – RP90 – WS88

3) Glen Carlou Grand Classique 2005 – África do Sul – Corte de Bordeaux com 41% Cab. Sauvignon, 40% Merlot, 8% Cab. Franc, 6% Malbec, 5% Petit Verdot – Grand Cru – R$ 75 – RP89 – WS90

4) Vina Santa Rita Medalla Real Cabernet Sauvignon 2007 – Chile – Grand Cru – R$ 83 – WS91

5) Vina Montes – Montes Alpha Cabernet Sauvignon 2007 – Chile – Mistral – US$ 45 – RP91

6) Conte Emo Capodilista – Ireneo 2004 Cabernet Sauvignon – Itália – Expand – R$ 118 – WS93

7) Vina Cobos Bramare Cabernet Sauvignon Lujan de Cuyo 2006 – Argentina – Grand Cru – R$ 195 – RP93 – WS88

8) Montevetrano – Rosso Montevetrano Colli di Salerno IGT 2005 – Corte de Cabernet, Merlot e Aglianico – Itália – Cellar – R$ 210 – RP93 – WS93

9) Errazuriz – Don Maximiano Founder’s Reserve 2006 - 85% Cabernet Sauvignon, 7% Cabernet Franc, 5% Petit Verdot e 3% Shiraz – Chile – Vinci – US$ 146 – RP94 – WS91

sábado, 25 de setembro de 2010

Degustação 02 - Tintos do Mundo II

Degustação 02 – Tintos do Mundo II

A segunda degustação que irei apresentar também foi organizada por mim, em Abril de 2007, em Santa Rita.

A apresentação foi a mesma da primeira, pois o público era distinto (aqueles que não conseguiram vaga na primeira). Novamente foram servidos seis vinhos tintos para 15 participantes.

Os vinhos foram servidos às cegas, ou seja, os participantes não sabiam quais vinhos estavam tomando a cada momento (embora dispusessem de uma lista contendo detalhes sobre os seis vinhos que seriam servidos).

Com a devida orientação, todos fizeram a avaliação dos vinhos utilizando a ficha padrão da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS).

Os vinhos degustados foram:

1) Faiveley Mercurey Clos du Roy Premier Cru 2004 – França - Borgonha – Uva Pinot Noir – Fornecido pela Mistral – R$ 134,00 – Pontuação: RP89

2) Bodegas Martinez Bujanda Finca Valpiedra Reserva 2001 - Espanha – Rioja – Uvas: Tempranillo (90%), Cabernet Sauvignon (5%) e Mazuelo (5%) – Fornecido pela Mistral – R$ 109,00.

3) Castello di Fonterutoli Chianti Clássico 2000 – Itália – Toscana – Uva Sangiovese – Fornecido pela Expand – R$ 118,00 – Pontuação: RP88 e WS87

4) Delicato Merlot 2004 – Estados Unidos – Califórnia – Uva Merlot – Fornecido pela WorlWine – R$ 42,00 – Pontuação WS86

5) Redbanck Fighting Flat Shiraz 2003 - Austrália – King Valley – Uva Shiraz – Fornecido pela Expand – R$ 98,00 – Pontuação: RP87

6) Casa Lapostolle Cuvée Alexandre Cabernet Sauvignon 2005 – Chile – Colchagua Valley – Uva Cabernet Sauvignon – Fornecido pela Mistral – R$ 84,00 – Pontuação: WS90 e RP89

O único vinho repetido em relação à primeira degustação foi o Delicato, mas com safra diferente.

Na votação ao final da degustação, mereceram destaque, nesta ordem, o Chianti, o Delicato e o Espanhol.

Aqui, diferentemente da primeira, o gosto da maioria não coincidiu com o meu. Eu preferi o Australiano, seis pontos à frente do segundo colocado: o espanhol. O Delicato, que foi o segundo colocado da maioria, foi o meu último colocado!

Tampouco o gosto dos participantes coincidiu com a crítica, uma vez que o vinho mais pontuado pelo Robert Parker e pela Wine Spectator, o Casa Lapostolle, não apareceu em destaque na votação dos participantes.

Tentando conciliar o gosto da maioria com o meu, vou apresentar os detalhes do Chianti, campeão pela maioria e meu 3º colocado, e do espanhol, 3º colocado pela maioria e meu 2º colocado.

Castello di Fonterutoli Chianti Clássico 2000

13.5% de álcool, passou 12 meses em barrica de carvalho francês.

Aromas com boa complexidade.

As últimas três safras receberam a seguinte pontuação: 2007 (RP88 , WS90), 2006 (RP89 , WS90) e 2005 (RP90 , WS85). Logo, me parece que as safras de 2006 e 2007 obtiveram notas mais homogêneas de Robert Parker e Wine Spectator e, talvez, sejam as mais indicadas.

Bodegas Martinez Bujanda Finca Valpiedra Reserva 2001

Vinho espanhol da região da Rioja, feito com 90% de Tempranillo, 5% de Cabernet Sauvignon e 5% de Mazuelo.

Teor alcoólico de 13.5%, passou entre 18 e 22 meses em barril novo de carvalho francês.

Aromas de frutas negras com toque de tostado e defumado.

A safra 2004 recebeu 93 pontos da Wine Spectator e é uma boa dica de compra.


Abraço a todos e boas compras.

Brito.

domingo, 19 de setembro de 2010

Patriotismo, "Cordeirismo" ou Imbecilidade?

Patriotismo, Cordeirismo ou Imbecilidade?

Depois de um longo vôo de cerca de 10 horas, estava no Forth Worth Airport, em Dallas, matando o tempo com um Soduku, à espera de meu próximo vôo que me levaria para Honolulu. O tempo de espera previsto era de umas três horas, das quais eu já havia gasto cerca de 1 hora simplesmente andando pela área de embarque para tentar localizar alguma coisa interessante para fazer. Havia encontrado um Wine Bar, mas infelizmente ele estava fechado e só me restavam os vários restaurantes de estilo americano para matar o tempo. Comi alguma coisa e fui me sentar perto do meu portão para ler algo, mas acabei optando por voltar ao Sodoku, que estava fazendo pela primeira vez, mas que havia me conquistado de maneira definitiva.

Embora distraído em meus pensamentos matemáticos, percebi quando um velhinho se aproximou de outro passageiro que estava a alguns metros de mim e falou algo sobre Afeganistão. Eu já havia visto este senhor perambulando pela área de embarque e havia notado um crachá de voluntário que ele carregava no peito, embora não tivesse captado sua função ou objetivo. A primeira coisa que me veio à mente quando ele mencionou a palavra Afeganistão, é que havia ocorrido alguma mudança de portão de embarque e que ele estava tentando avisar as pessoas. Alguns minutos depois ele se dirigiu a mim e novamente falou algo, que não entendi, mas que continha a palavra Afeganistão. Como eu já havia concluído que se tratava de uma mudança de portão de embarque, simplesmente respondi que eu não ia para o Afeganistão e voltei para o meu Sodoku.

Decorridos uns quinze minutos comecei a perceber uma grande movimentação ao meu redor. Logo a seguir, comecei a ouvir gritos de “obrigado” e “bem-vindo de volta ao lar”. Não conseguia entender absolutamente nada e, olhando para trás, percebi que praticamente todas as pessoas daquela ala do aeroporto estavam de pé, aplaudindo, gritando e olhando para cima. Ao acompanhar o olhar das pessoas percebi que havia um grande corredor envidraçado ao nível do segundo andar, que era utilizado para desembarque de passageiros, pelo qual estavam passando um grande número de soldados uniformizados.

Finalmente pude então compreender o que significava a referência ao Afeganistão na pergunta que o velhinho havia me feito. Aquelas pessoas que estavam desembarcando eram soldados provenientes do Afeganistão e ele havia me convidado para participar de uma espécie de cerimônia de boas vindas.

Fiquei por alguns minutos observando os soldados que desembarcavam e a reação das pessoas que estavam no saguão e que continuavam gritando, capitaneadas pelo velhinho, frases de “muito obrigado” e “bem-vindo de volta ao lar”. Aquela manifestação me causou profundo desconforto. Eu via garotos, moleques mesmo, desfilando com seus uniformes, e um grande número de pessoas gritando e aplaudindo como se eles fossem verdadeiros heróis. A pergunta que eu me fazia era: que raios essas pessoas pensam para considerar que estes moleques sejam heróis. Eles foram para longe de casa (sim), para lutar em uma guerra imbecil, criada por um governante ainda mais imbecil e, portanto, deveriam ser tratados como completos imbecis e não como heróis. Será que estas pessoas que estavam no saguão já haviam parado para pensar sobre o que realmente significava aquela empreita em um país remoto, completamente sem importância, cujos líderes, que neste momento estavam sendo combatidos, haviam chegado ao poder com a ajuda do próprio Estados Unidos em um passado não muito distante. Será que eles aplaudiriam se um de seus filhos estivesse naquele momento participando daquela guerra. Será que eles aplaudiriam se tivessem perdido um filho que fora enviado para o fim do mundo para, ao menos oficialmente, capturar um maluco que nunca foi encontrado. Acho que não!

Um pouco confuso, me sentei novamente, coloquei o fone do meu IPod para não ouvir a manifestação e voltei ao meu Sodoku. Mas não conseguia deixar de pensar: o que de fato motivou aquela manifestação: patriotismo exacerbado, que é impensável para nós brasileiros; o sentimento de rebanho que tende a acompanhar uma voz de comando, representada pelo pedido insistente do velhinho; ou simplesmente a imbecilidade de realmente se achar o xerife do mundo e aplaudir qualquer ação da nação neste sentido, desde que não envolva a mim ou qualquer um que eu ame?

Mais recentemente, neste ano no USOPEN, estava comendo um fast-food em uma mesa do complexo e de repente começei a ouvir palmas e gritos quase histéricos de entusiasmo. Levantei os olhos em busca do que estava ocorrendo, achando que encontraria o Federer ou o Nadal caminhando pelo complexo, e encontrei um grupo de pessoas fardadas (soldados?) carregando uma bandeira americana, em formação militar, em direção do estádio Arthur Ashe. Como haveria uma cerimônia de abertura naquele estádio em alguns minutos, conclui que o grupo estava carregando uma big bandeira que seria aberta na quadra. Mais uma vez pensei, o que leva este monte de gente a sair gritando de forma quase histérica ao ver um grupo de pessoas com farda carregando uma bandeira? Isto é mesmo patriotismo ou mera imbecilidade?

Sobre patriotismo eu prefiro a famosa frase de Samuel Johnson, pensador inglês do século XVIII: “O patriotismo é o último refúgio de um canalha”.

Abraço a todos,

Degustação 01 - Tintos do Mundo

Degustação 01

A partir desta semana vou publicar o resumo de algumas degustações que participei ou que organizei. A ideia é apresentar os vinhos degustados e destacar os considerados melhores pelo público presente. Assim, teremos, creio eu, boas dicas de compra de vinhos já experimentados.

A primeira que apresento foi organizada por mim em Março de 2007, em Santa Rita. Após uma apresentação de 1 hora, intitulada Uma Visão Panorâmica do Mundo dos Vinhos, foram servidos seis vinhos tintos para 15 participantes. Os vinhos foram servidos às cegas, ou seja, os participantes não sabiam quais vinhos estavam tomando a cada momento (embora dispusessem de uma lista contendo detalhes sobre os seis vinhos que seriam servidos). Com a devida orientação, todos fizeram a avaliação dos vinhos utilizando a ficha padrão da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS).

Os vinhos degustados foram:

1) Joseph Drouhin Volnay 2004 – França – Borgonha – Uva Pinot Noir – Fornecido pela Mistral – R$ 132,00 – Pontuação: WS88

2) Avelino Vegas Fuentespina Reserva 2001 – Espanha – Ribera Del Duero – Uva Tempranillo – Fornecido pela Expand – R$ 118,00 – Pontuação: WS87

3) Badia a Coltibuono Chianti Classico 2004 – Itália – Toscana – Uva Sangiovese – Fornecido pela Mistral – R$ 84,00 – Pontuação RP89

4) Delicato Merlot 2001 – Estados Unidos – Califórnia – Uva Merlot – Fornecido pela WorlWine – R$ 39,00 – Pontuação WS86

5) Peter Lehmann Barossa Valey Shiraz 2002 – Austrália – Barossa Valley – Uva Shiraz – Fornecido pela Expand – R$ 95,00 – Pontuação WS90, Decanter 5*

6) Vina Montes Montes Alpha Cabernet 2004 – Chile – Colchagua Valley – Uva Cabernet Sauvignon – Fornecido pela Mistral – R$ 75,00 – Pontuação WS89, Decanter 5*

Na votação ao final da degustação, mereceram destaque, nesta ordem, o Shiraz australiano seguido do Pinot Noir Francês. Na minha opinião os dois foram realmente os melhores da noite, mas em ordem invertida. Ou seja, para mim o melhor foi o francês. O espanhol para mim ficou em terceiro, mas com apenas 1.5 pontos a menos que o francês e ½ ponto a menos que o australiano.

Interessante que o vinho mais pontuado pela crítica também foi o escolhido pelos participantes, mesmo com a degustação às cegas.

Vamos aos dados técnicos e notas de degustação dos vencedores:

Peter Lehmann Shiraz 2002

14.5% de álcool, passou 12 meses em barrica de carvalho francês e americano.

Vinho com boa persistência, taninos finos, com aromas de frutas pretas, ameixa, amora e toque de chocolate.

As safras de 2005 e 2006 receberam 91 pontos da Wine Spectator (WS) e são boas safras para se comprar.

Joseph Drouhin Volnay 2004

Vinho francês da região da Borgonha, sub-região Volnay, feito com a uva Pinot Noir.

Vinho complexo com taninos finos, aromas de frutas vermelhas, violeta, toques de especiarias e cogumelos.

A safra 2007 recebeu 89 pontos da Wine Spectator e é uma boa dica de compra.

Principais Países Produtores de Vinhos no Mundo

Principais Países Produtores de Vinhos no Mundo

A produção de vinhos de qualidade está relacionada a um grande número de fatores climáticos e a diversas características do solo, sendo este conjunto denominado pelos franceses de Terroir (exploraremos melhor este conceito posteriormente).

Em função disto, os vinhos de qualidade estão restritos às regiões que estão situadas nas faixas de latitudes entre 30 e 50º ao norte e entre 30 e 42º ao sul, embora haja experiências de produção em outras latitudes, como no nordeste brasileiro.

As faixas de latitudes acima, em conjunto com outros aspectos, definem os países mais importantes no mercado vinícola mundial. Estes países podem ser classificados em países do velho mundo, que são os localizados no continente europeu, e países do novo mundo, que são aqueles localizados nas Américas, África e Oceania.

Vamos tecer alguns comentários sobre os principais países produtores:

França

Principal país produtor de vinho do mundo, produz grandes vinhos de todos os tipos (tintos, brancos, espumantes, de sobremesa).

As uvas mais conhecidas e admiradas por nós (Cabernet, Merlot, Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, etc..) são quase todas de origem francesa.

Uma busca rápida no site do Robert Parker resulta em cerca de 1.220 rótulos com 96 pontos ou mais. Na Wine Spectator o resultado é 1.344 rótulos com pontuação entre 95 e 100. Para se ter uma ideia da magnitude deste número, na Wine Spectator o 2º colocado, Itália, aparece com 571 rótulos com pontuação na mesma faixa!

O problema da França é que tão alta quanto a qualidade dos vinhos também são os seus preços. Em uma lista com 169 vinhos de boa relação qualidade/preço que elaborei, apenas 24 eram franceses (com apenas 5 custando menos que R$ 100,00).

Itália

A Itália é o 2º país em importância quando estamos falando de vinho.

Embora também produza bons vinhos de todos os tipos, os melhores italianos são, sem sombra de dúvida, os tintos, com destaque para as regiões do Piemonte, terra dos Barolos e Barbarescos, e da Toscana, com os famosos Brunellos di Montalcino, Chiantis e SuperToscanos.

Aqui os melhores vinhos são produzidos com as uvas locais Sangiovese e Nebbiolo, mas também há, no caso dos SuperToscanos, participação de uvas de origem francesa.

Dos países do velho mundo, a Itália é que contribui com mais vinhos, 38 rótulos (22.5%), na minha lista de vinhos com boa relação qualidade/preço. No cômputo geral perde apenas para a Argentina neste quesito.

Espanha

Mais um país com destaque para os tintos, principalmente os das regiões da Rioja e Ribera Del Duero, nas quais a uva Tempranillo prevalece (na Ribera de fato é um clone da Tempranillo denominado Tinta Del País ou Tinta Fina).

Portugal

Embora Portugal produza bons vinhos de todos os tipos, os mais famosos vinhos deste país são os vinhos do Porto (fortificados). Nos tintos e brancos normais o país ainda não consegue competir com França, Itália, Espanha, Alemanha e Áustria.

Alemanha

A Alemanha é um país para quem gosta de brancos. Há um total de 393 vinhos com pontuação top nos sites do Robert Parker e Wine Spectator, todos brancos, com grande destaque para a uva Riesling.

Argentina

A Argentina é hoje o país com maior número de vinhos com pontuação top na América do Sul, tendo ultrapassado o Chile, seu principal rival.

Todos os vinhos de melhor pontuação são tintos, com grande predominância da uva Malbec, embora também haja alguns Cabernets Sauvignons ou blends. A Malbec é uma uva de origem francesa que se adaptou muito bem no terroir argentino e levou os vinhos deste país a uma posição de destaque no mundo.

No mercado brasileiro, os vinhos argentinos são os que oferecem a melhor relação qualidade/preço. Da minha lista com 169 vinhos, há 42 argentinos (24.8% do total).

Austrália

A Austrália é o 2º país do novo mundo, perde apenas para os Estados Unidos, com maior número de vinhos com pontuação top, com um total de 485 rótulos, sendo 453 tintos.

O grande destaque são os tintos da uva Syrah (denominada Shiraz na Austrália), mas também há contribuição de alguns Cabernets Sauvignons.

Chile

O Chile é o 2º, e último, país da América do Sul que importa no mercado mundial de vinhos. Já foi o mais importante, mas perdeu esta posição nos últimos anos para a Argentina.

Mais uma vez só há tintos com pontuação top, com destaque para os Cabernets Sauvignons, blends e Carmenere, esta última uma uva francesa que hoje só existe no Chile.

Estados Unidos

Os Estados Unidos são o país com maior destaque na produção de vinhos no novo mundo, ao menos quando o critério é o número de vinhos com pontuação top existentes. No site do Robert Parker ele ocupa a 2ª posição geral, perdendo só para a França, e na Wine Spectator ocupa a 3ª posição, perdendo para a França e Itália.

O grande destaque são os vinhos Cabernets Sauvignons e blends da região do Napa Valley na Califórnia, mas também há boa participação dos vinhos feitos com Pinot Noir.

O grande problema dos vinhos americanos é a baixíssima disponibilidade de rótulos no mercado brasileiro.

De fato, é difícil achar os tops americanos mesmo nos Estados Unidos. A maior parte das grandes lojas de vinhos americanas tem mais vinhos importados do que os nacionais. De uma lista com cerca de 80 vinhos americanos que gostaria de comprar, após pesquisar em quatro grandes lojas de vinho em New York, encontrei zero (ou seja, não encontrei nenhum vinho da minha lista!). Para fechar, fui a um Wine Bar, recomendado pela Wine Spectator, em New York com a esperança de poder provar vários vinhos nacionais e não havia nenhum vinho americano disponível em taça!

Outros Países

A Áustria também merece destaque, com 105 vinhos tops encontrados, todos brancos. Mas a disponibilidade no mercado brasileiro também é muito baixa.

Outros que aparecem com vinhos pontuados na faixa top e que têm boa disponibilidade no mercado brasileiro são a Nova Zelândia (com dois rótulos) e a África do Sul (com três rótulos).

Há ainda outros países, como o próprio Brasil, Grécia, Hungria (este particularmente para vinhos doces) e Uruguai, que podem ter bons vinhos, mas que não têm a mesma importância dos anteriormente citados.

Por fim, obviamente, há vinhos produzidos em diversos outros países, como Peru, China, Egito, Marrocos, etc. Mas, nestes casos, em geral, podendo evitar é melhor!

Em textos posteriores vamos detalhar um pouco mais os principais países e suas principais regiões.

Grande abraço a todos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Grand Cru e Premier Cru

CRIANZA, RESERVA, GRAN RESERVA, GRAND CRU e PREMIER CRU (contin.)

Vamos continuar a descrição da classificação dos vinhos, iniciada no texto Reserva, Gran Reserva, Grand Cru e Premier Cru.

A França foi o país que introduziu o conceito de terroir, um conjunto de aspectos ligados ao clima e ao solo, que estabelece o local como o principal responsável pela qualidade do vinho. Alguns produtores franceses afirmam que a qualidade do vinho se faz 70% no vinhedo e 30% na vinícola. Este conceito deu origem, em algumas regiões da França, a uma classificação baseada na localização da videira.

As classificações Grand Cru e Premier Cru têm significado diferente dependendo da região à qual estamos nos referindo e são reguladas em cada região por lei específica. Assim, a definição de Grand Cru em Bordeaux é diferente da mesma definição na Borgonha, por exemplo. Pior do que isto, às vezes a classificação tem significado diferente em diferentes sub-regiões de uma mesma região.

A classificação do Médoc, sub-região de Bordeaux, foi a primeira (estabelecida originalmente em 1855 com base nos preço de venda dos vinhos à época) e definiu quatro châteaus denominados de Premiers Crus (1º crus), quatorze Deuxièmes Crus (2º crus), quatorze Troisièrnes Crus (3º crus), dez Quatrièmes Crus (4º crus) e dezoito Cinquièmes Crus (5º cru). Em 1973, o famoso Château Mouton-Rothschild subiu de Deuxième Cru para Premier Cru, e esta foi a única mudança que ocorreu na lista original. Estes 60 vinhos são os chamados Grands Crus Classés do Médoc, com os Premiers Grands Crus Classés ocupando posição de destaque. Em conclusão, na classificação do Médoc, Grand Cru Classé é sinômino de status, preço e, quase sempre, qualidade fora do padrão.

Os cinco vinhos classificados como Premiers Crus na classificação do Médoc são: Château Margaux, Château Latour, Château Haut-Brion, Château Lafite-Rotshcild e Château Mouton-Rothschild. Salientando que, na verdade, o Château Haut-Brion fica na região de Graves e não no Médoc. Estes vinhos custam, no Brasil, algo em torno de R$ 2.000,00 a garrafa, para uma safra recente não excepcional.

Na sub-região de Saint-Emillion, também em Bordeaux, os melhores vinhos são classificados em Premiers Grands Crus Classes (divididos em Classe A e Classe B), seguidos pelos Grands Crus Classes. Na classificação original, de 1954, onze Châteaus foram denominados de Premiers Grands Crus Classes e cinqüenta e três como Grands Crus Classes. Diferente da classificação do Médoc, esta é revisitada a cada dez anos. Na revisão de 2006, 16 châteaus foram classificados como Premiers Grands Crus Classés, sendo dois de classe A (châteaus Ausone e Cheval Blanc), e 47 como Grands Crus Classés. Nesta região há vários vinhos que ostentam no rótulo a denominação Grand Cru, mas que não devem ser confundidos com os oficialmente classificados como Grands Crus Classés.

Outro exemplo de classificação diferente foi a adotada nas sub-regiões de Sauternes e Barsac, nas quais um château, Château d’Yquem, se destacava tanto que recebeu a denominação de Premier Cru Supérieur Classé.

Em resumo, em Bordeaux, Grand Cru Classé é sinônimo de prestígio, preço e, quase sempre, qualidade, com os Premiers Crus ocupando lugar de destaque.

Para se ter idéia da importância destes vinhos, devemos lembrar que em Bordeaux há milhares de vinícolas.

Vale ressaltar que, embora a classificação tenha por espírito a valorização do terroir, no Médoc ela está atrelada ao château e não ao terreno. Ou seja, se um château comprar o terreno do seu vizinho, o vinho produzido passa a ter a classificação do château comprador.

Saltando de Bordeaux para a Borgonha, vemos que o significado da classificação também sofre um salto. Os vinhos da Borgonha são classificados como Borgonhas tintos e brancos (vinhos básicos que correspondem a 52% dos vinhos produzidos na região), seguidos dos Vin de Village (aldeia), que são provenientes de uvas plantadas exclusivamente naquela Village ou em torno dela (que correspondem a 35% dos vinhos produzidos na Borgonha), dos Premiers Crus, que provêm de um vinhedo específico (há 562 vinhedos classificados como Premiers Crus na Borgonha, que produzem 11% dos vinhos da região) e, por último, dos Grands Crus, que é a mais alta designação da Borgonha. Os trinta e três vinhedos classificados como Grands Crus na Borgonha são responsáveis por apenas 2% da produção da região.

Logo, Grand Cru e Premier Cru também são designações que também indicam prestígio, preço e qualidade na Borgonha, mas aqui o Grand Cru é um vinho superior ao Premier Cru, enquanto em Bordeaux a designação Premier Grand Cru Classé é superior ao Grand Cru Classé (que é a denominação adotada normalmente pelos Grands Crus Classés que estão mais na base da pirâmide, ou seja, mais perto do Cinquièmes Crus).

Deve-se ressaltar que a classificação da Borgonha está ligada ao vinhedo e não à vinícola.

Estas classificações não são comuns em outras partes do mundo (e mesmo em outras partes da França), embora o conceito de classificar o vinho pela qualidade do vinhedo venha se tornando comum em diversos países e regiões. Neste caso, o produtor normalmente identifica no rótulo o nome do vinho e o nome do vinhedo de procedência das uvas. Por exemplo, o vinho italiano Brunello di Montalcino Casanova di Neri Cerretalto, é produzido apenas com uvas do vinhedo denominado Cerretalto (e apenas nos melhores anos) da vinícola Casanova di Neri. Outro exemplo é o vinho argentino Catena Zapata Adrianna Vineyard, que é produzido apenas com uvas provenientes do vinhedo denominado Adrianna.

Não se preocupe se você achou esta classificação um pouco confusa, na verdade ela é ainda um pouco mais confusa, mas vamos desvendando estes mistérios à medida que formos progredindo e tratando cada uma das regiões em separado.

Abraço a todos,

Brito.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Reserva, Gran Reserva, Grand Cru, Premier Cru

Crianza, Reserva, Gran Reserva, Grand Cru, Premiere Cru

Atendendo ao pedido do Bruno, vamos tratar um pouco mais sobre a classificação dos vinhos, agora em termos da classificação de diferentes vinhos de uma mesma vinícola ou diferentes vinhos de uma mesma região.

Você já deve ter visto no rótulo dos vinhos as denominações: Crianza, Reserva (ou Riserva ou Reserve), Gran Reserva, Grand Cru, Premier Cru, etc.

O que estes nomes de fato significam?

Não existe uma resposta única para a pergunta acima, pois o significado dos termos depende do país e da região na qual o vinho foi produzido. Por exemplo, há países em que a legislação estabelece regras de plantio e/ou produção para que um vinho tenha uma determinada denominação e há outros nos quais não há nenhuma regra e o produtor se sente livre para fazer a denominação que desejar.

Vamos começar com as classificações Crianza (esta tipicamente da Espanha), Reserva e Gran Reserva. Nos países em que a legislação estabelece regras, estas denominações estão normalmente associadas ao tempo de amadurecimento/envelhecimento do vinho antes que o mesmo possa ser comercializado.

Observação: normalmente chamamos de amadurecimento o tempo que o vinho passa em barris de carvalho, interagindo quimicamente com a madeira e com o oxigênio, e envelhecimento o tempo que o vinho passa na garrafa após o término da produção. No entanto, por razões de simplicidade, vou me referir, no restante deste texto, a ambos os períodos como amadurecimento.

Para ilustrar a idéia vamos tomar como exemplo a região da Rioja na Espanha. Nesta região, para que um vinho seja denominado Crianza (esta denominação é tipicamente espanhola) ele amadureceu pelo menos dois anos antes de ser comercializado, um dos quais em barril de carvalho. Já um tinto Reserva desta mesma região amadureceu pelo menos três anos, com pelo menos um ano de carvalho, enquanto um tinto Gran Reserva amadureceu pelo menos cinco anos, com pelo menos dois anos de carvalho. Para os vinhos brancos os tempos de amadurecimento mínimos são outros, mas o conceito é o mesmo. Ou seja, o Gran Reserva amadureceu mais que o Reserva que amadureceu mais que o Crianza.

Outro exemplo são os vinhos Barolo e Barbaresco da região do Piemonte na Itália. Um Barolo precisa amadurecer um total de três anos entre barril e garrafa, enquanto um Barolo Riserva precisa amadurecer pelo menos cinco anos. Já para o Barbaresco os tempos são dois anos para a denominação comum e quatro anos para o Barbaresco Riserva. Ainda na Itália, na região da Toscana, um Chianti Classico Riserva passou por um amadurecimento de pelos dois anos em madeira e três meses em garrafa. Nesta mesma região, um Brunello di Montalcino amadurece pelo menos quatro anos, dos quais dois em carvalho, antes da comercialização, enquando um Brunello di Montalcino Riserva amadurece pelo menos cinco anos, sendo dois e meio em carvalho.

Logo, podemos concluir que, em geral, nos países em que esta denominação é regulada por lei, um vinho Gran Reserva passou por um período de amadurecimento maior que um Reserva, que passou por um amadurecimento maior que um Crianza (para a Espanha), que passou por um período maior de amadurecimento do que um vinho comum da mesma região.

Uma conseqüência indireta desta conclusão é que os vinhos Gran Reserva são feitos com uvas melhores que os vinhos Reserva, que por sua vez são feitos com uvas melhores que os vinhos comuns de uma dada região. Isto ocorre porque é necessário que a uva tenha estrutura suficiente para se beneficiar do período de amadurecimento no carvalho, pois do contrário o resultado não será benéfico para o vinho. Ou seja, normalmente só se passa pelo carvalho os vinhos com maior estrutura. Assim, em safras ruins, pode não haver produção de vinhos do tipo Reserva ou Gran Reserva em uma determinada região, por se julgar que a qualidade final do vinho não é suficiente para que o mesmo possa passar pelo barril de carvalho.

Perceba, no entanto, que as conclusões acima são válidas para os países com legislação específica. Para os países sem legislação a este respeito, os melhores produtores buscam utilizar a mesma lógica para classificar seus vinhos como Reserva ou Gran Reserva, mas outros podem fazer esta classificação unicamente como mecanismo de marketing, sem que isto represente de fato uma maior qualidade do produto. Há produtores que denominam praticamente todos os seus vinhos como Reserva (ou Reserve), apenas para tentar criar uma falsa impressão de qualidade para o produto.

Já as denominações Grand Cru e Premiere Cru são normalmente associadas aos vinhos franceses e têm significado dependente da região de produção do vinho, mas vamos deixar esta questão para o próximo texto.

Abraço a todos,

Brito.