segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Uvas Brancas Clássicas - Riesling

UVAS BRANCAS CLÁSSICAS – RIESLING

A Riesling, de origem Alemã, é uma das principais uvas brancas do mundo. As melhores uvas desta espécie possuem acidez elevada e grande quantidade de extratos, resultando em vinhos com bom potencial de guarda, embora, em geral, tenham baixo teor alcoólico.

A Riesling se dá melhor em climas mais frios, onde amadurecem mais lentamente e retém a acidez. Quando plantadas em regiões quentes, normalmente não resultam em vinhos de grande qualidade.

Esta uva não é muito amiga do carvalho. Logo, normalmente os vinhos de Riesling não passam por amadurecimento em madeira, preservando as características da fruta.

Os aromas normalmente encontrados incluem: pêssego, damasco, melão, aromas minerais e florais.

Os melhores vinhos de Riesling do mundo são feitos na Alemanha, seguidos pelos vinhos da Alsácia, na França, e pelos vinhos Austríacos.

Em segundo plano, mas ainda com excelente qualidade, destacam-se os vinhos da Austrália e dos Estados Unidos, seguidos pela Nova Zelândia.

Obviamente há outros países que produzem vinhos com esta uva, mas é melhor se concentrar nos países acima relacionados e esquecer o resto.

Alguns Rieslings com boa relação pontuação/preço disponíveis no Brasil são, em ordem crescente de preço:

Brundlmayer – Langeloiser Kamptaler Terrasen 2006 – Alemanha – Mistral – US$ 43 – Pontuação: RP87 e WS92

Grosset – Polish Hill Riesling 2008 – Austrália – Vinci – US$ 67 – Pontuação: RP92 e WS90

Leon Beyer – Riesling Reserva 2004 – Alsácia – França – Vinci – US$ 68 – Pontuação: RP92

sábado, 23 de outubro de 2010

Viajando pela Alsácia

VIAJANDO PELA ALSÁCIA

Um bom ponto de partida para visitar a Alsácia é a cidade de Estrasburgo (Strasbourg), localizada quase na fronteira com a Alemanha.

Estrasburgo é uma cidade média, com cerca de 400.000 habitantes, mas as principais atrações turísticas residem em seu centro histórico, charmoso e simpático, que pode ser facilmente percorrido a pé.

Sua principal atração é a Catedral de Notre-Dame, cuja primeira versão teve sua construção iniciada em 1015, embora a conclusão date do século XV (ano de 1439 em algumas publicações). Esta catedral gótica possui portais esculpidos em pedra de deixar o viajante boquiaberto, além de um belo interior.

Os canais que circundam a cidade velha também propiciam um belo passeio, que pode ser feito em uma caminhada ao longo de suas margens ou em um passeio de barco.

Há belas pontes cruzando o canal e o passeio proporciona um belo visual em alguns pontos.

A cidade de Estrasburgo também oferece bons restaurantes e constitui uma boa opção para se experimentar a comida da Alsácia (há quatro restaurantes com uma estrela do Guia Michelin na cidade).

Um restaurante particularmente interessante é o Maison Kammerzell, de influência alemã. Não é um restaurante estrelado, mas tem boa cozinha e é realmente bonito, com paredes e tetos lindamente pintados. Os preços estão entre E$ 30 e E$ 70 (sem o vinho).

Um dia inteiro é suficiente para visitar os principais pontos de Estrasburgo. Mas se você gosta de fazer as coisas com mais calma e tem tempo, reserve dois dias para visitar a cidade.

Após deixar Estrasburgo, antes de tomar a rota dos vinhos, minha próxima parada foi o Château du Haut-Koenigsbourg, em St. Hyppolite. Distante cerca de 60 km ao sul de Estrasburgo.

Este imponente castelo é considerado a atração mais popular da Alsácia. O castelo foi originalmente construído em 1114, mas foi destruído em 1462, reconstruído, e destruído novamente em 1633. No final do século XIX ele foi restaurado e ganhou novamente a aparência da construção original.

Da parte alta pode-se ter uma bela visão das terras do Reno fazendo divisa com a Floresta Negra e os Alpes.

Uma boa pedida é deixar Estrasburgo logo cedo, visitar o castelo e depois tomar a Rota dos Vinhos da Alsácia em direção a Riquewihr.

Após visitar o Château, é hora de tomar a “Rota dos Vinhos da Alsácia”, uma tranquila estrada secundária que te levará entre os vinhedos da Alsácia, passando por diversas vilas medievais encantadoras. São cerca de 120 km de estrada rodeada pelas principais vinícolas da Alsácia.

Minha primeira parada foi na vinícola Bott Frères, localizada na vila de Ribeauvillé. Fundada em 1835, dentre os muitos vinhos produzidos pela vinícola, há três grands crus: Grand Cru Osterberg from Ribeauville, Grand Cru Kirchberg from Ribeauville e Grand Cru Gloeckelberg from Rodern, os dois primeiros da uva Riesling e o terceiro de Pinot Gris.

Um pouco mais ao sul está a charmosa vila de Riquewihr, com cerca de 1.100 habitantes. Repleta de casas medievais e renascentistas, esta é a vila mais bonita da rota dos vinhos da Alsácia e uma das cidades mais visitadas da França.

Você se sentirá em outra época andando nas ruas de pedra e olhando para as casas com balcões floridos deste lugar encantador.

Vale a pena passar um dia e uma noite aqui (ou até mais, se você tiver tempo e uma boa companhia) para curtir o clima do local e visitar as muitas adegas de vinho e os vários restaurantes existentes (há um restaurante estrelado na cidade e mais quatro nas redondezas, incluindo um três estrelas do Guia Michelin em Illhaeusern, distante cerca de 10 km).

Ao sair de Riquewihr, continue pela Rota dos Vinhos e vá parando nas vinícolas que surgirão na beira da estrada. Selecione as vinícolas aleatoriamente ou mapeie previamente aquelas que oferecem vinhos Grands Crus.


Ao deixar a Alsácia vamos para a região da Borgonha, mas isto é assunto para outro texto.

É hora de arrumar as malas...

Abraço a todos,

Brito.

Jazz em New York

JAZZ em NEW YORK
New York é provavelmente a mais importante cidade jazzística do mundo. Aqui há, de segunda a segunda, dezenas de shows a cada dia, envolvendo os mais diversos tipos de artistas. Nesta minha viagem a NY, em setembro deste ano, conheci um casal de noruegueses que fizeram uma pesquisa e encontraram cerca de 30 shows diferentes ocorrendo a cada noite. Logo, para varrer todas as possibilidades, precisaria passar pelo menos um mês por lá. Pena que eu não posso!

Meu principal objetivo nesta viagem era assistir ao USOPEN, mas como meus ingressos cobriam apenas as sessões diurnas (com exceção do sábado, onde eu tinha também programação noturna), resolvi aproveitar e explorar um pouco as opções que a big city oferece. Após uma breve pesquisa na Internet para ver o que estava rolando na cidade, selecionei cinco shows para assistir em quatro diferentes templos do jazz. Tentei, ao definir os shows, cobrir diferentes estilos de jazz e composições artísticas da banda.

Uma casa de Jazz (Jazz Club) é, em geral, um lugar pequeno, apertado e, no passado, muito enfumaçado. Como a legislação atual expulsou a fumaça em praticamente todo lugar do mundo, restou só o lado bom, intimista e aconchegante; um ambiente em que se assiste ao show a poucos metros do artista. Assim foram todos os locais em que fui neste roteiro.

Dentre todos, talvez o maior templo do jazz no mundo seja a casa Blue Note (http://www.bluenote.net/newyork/index.shtml). Logo, minha programação jazzística não podia deixar de priorizar esta casa. O Blue Note é uma casa pequena, como quase todas em NY, com capacidade para pouco mais de uma centena de pessoas, por onde já passaram grandes nomes do Jazz. Uma primeira pesquisa me mostrou que havia dois grandes shows ocorrendo nesta casa no período em que estaria por lá: Countie Basie Orchestra e Diane Schurr.

Assim, comecei minha aventura jazzística em NY com a Countie Basie Orchestra, que se apresentou com uma composição de 17 músicos, com um pianista, um baterista, um baixista e todos os demais em instrumentos de sopro. A orquestra tem, portanto, a composição de uma big-band e foi acompanhada, em parte do show, por uma jovem cantora, Ledisi, cujos recursos vocais me lembraram nossa Elza Soares. Foi um show vibrante, com uma excelente escolha de repertório e músicos brilhantes. Enfim, uma grande noite de jazz, curtida na companhia de meus recém amigos noruegueses.

Na segunda noite fui ao Jazz Standard (http://jazzstandard.net/), uma casa ainda menor do que a Blue Note, para o show da cantora Rene Marie, que se apresentou acompanhada de piano, baixo e bateria. Aqui todo o show foi montado para destacar a fantástica qualidade da voz da cantora. O repertório foi bom, com mais momentos de conversa com a platéia do que o necessário. Os músicos tiveram bom desempenho, mas se mantiveram discretos, pois, como eu disse, o show foi montado para destacar a voz da cantora. Um momento de destaque ocorreu quando Rene convidou uma cantora que estava na platéia para subir ao palco. A convidada tinha uma excelente voz e uma magnífica força de interpretação; o dueto das duas beirou a perfeição (infelizmente não escrevi o nome da diva e minha memória antológica me traiu novamente...).

A terceira noite foi no Smoke Jazz (http://smokejazz.com/), uma casa para cerca de 60 pessoas, para o show de Eddie Henderson Quartet, que tem o próprio no trompete, acompanhado de baixo, bateria e piano. Eddie é um dos grandes do trompete e o show foi realmente fantástico. No show daquela noite o pianista foi substituído por um convidado especial na guitarra, com bom resultado, mas acho que seria ainda melhor com o piano e não com a guitarra. A guitarra é um instrumento que, em minha opinião, não acompanha bem no jazz. Ele pode até ter excelentes resultados quando o ponto central do show é a guitarra (embora não seja o meu estilo preferido), mas como instrumento de acompanhamento me parece que destoa um pouco. A composição ideal para uma banda de jazz, para mim, é um piano, baixo, bateria e três sopros: trompete, saxofone e trombone.

No domingo fui ao Jazz at the Lincoln Center (www.jalc.org), para assistir a um tributo a Louis Armstrong, prestado por uma banda composta de trompete, trombone, piano, clarineta, baixo e bateria, com participação especial, em parte do show, de bandolim e percussão. Um belo show dedicado inteiramente às músicas de Louis Armstrong, com um trompetista e também cantor com voz (e aparência) muito semelhante(s) ao do velho mestre.

Minha última noite de jazz em New York foi novamente no Blue Note, com o show da Diane Schurr, que se apresentou acompanhada de um pianista, um baixista e um baterista. Diane é uma estrela do jazz, ganhadora de dois prêmios Grammy, com um repertório muito eclético. Dona de recursos vocais fantásticos, embora com uma voz um pouco aguda para os meus ouvidos, ela se apresentou brilhantemente e só não fez um show perfeito em função do repertório que escolheu, que poderia ter sido melhor.

Ao fim ficou um gosto de quero mais, mas era tempo de voltar ao trabalho. Fica a certeza que preciso voltar a NY mais vezes.

Abraço a todos

Brito.

sábado, 16 de outubro de 2010

Alsácia - Terra de Brancos

ALSÁCIA – TERRA DE BRANCOS

A Alsácia está localizada próxima à fronteira com a Alemanha (de fato, esta região já pertenceu a Alemanha no passado) e sofre muita influência deste país.

A rota dos vinhos (veja mapa ao lado) é uma estrada secundária que corta as regiões vinícolas e se estende por 120 km no sentido norte-sul. Passear por esta estrada é a melhor forma de visitar as vinícolas da Alsácia. Um bom ponto de partida é a cidade de Strasbourg.

A composição do solo é bastante variada (giz combinado com argila, calcário, granito, xisto, sedimentos de rochas vulcânicas e arenito), fazendo com que o sabor e a qualidade do vinho variem muito com a localização do vinhedo.

A fermentação dos vinhos se dá em velhos barris de madeira, tanques de concreto ou tanques de aço inoxidável. A prática de chaptalização é permitida, com exceção dos vinhos VTs e SGNs (descritos a seguir).

A fermentação malolática não é feita, o que preserva a acidez original do vinho.

A filosofia dos produtores é colocar ênfase na fruta e no terroir. Portanto, não é comum a utilização de carvalho para amadurecer o vinho.

Embora também produza vinhos tintos de Pinot Noir, a Alsácia é, essencialmente, uma terra de brancos.

Os vinhos de qualidade produzidos aqui são, em geral, varietais, com praticamente 100% da uva declarada no rótulo - sim, diferente de outras regiões da França, na Alsácia a uva utilizada aparece no rótulo da garrafa.

Há várias uvas brancas plantadas na região (como Auxerrois, Chardonnay, Pinot Blanc e Sylvaner), mas os grandes vinhos são feitos das uvas Gewurztraminer, Pinot Gris e Riesling, com a uva Muscat também merecendo destaque.

Os melhores vinhos são encorpados, concentrados e com excelente acidez, o que resulta em ciclos de vida longos (veja texto “Quanto Mais Velho Melhor?”), com grande potencial de guarda.

Os vinhos secos predominam, mas há também produção de vinhos doces de destaque, embora em um percentual muito pequeno (cerca de 1%) e apenas em anos favoráveis. Estes vinhos são classificados em VT (Vendange Tardive) e SGN (Selecion de Grains Nobles). Os VTs, como o nome diz, são vinhos feitos de uvas supermaduras colhidas tardiamente, enquanto os SGN são vinhos feitos com uvas afetadas pela podridão nobre (Botrytis Cinerea). Interessante observar que um vinho VT da Alsácia pode ser seco, mas você só vai descobrir isto ao tomá-lo, já que esta condição não é declarada no rótulo.

Por fim, há produção de espumantes, denominados de Crémant d’Alsace, utilizando o mesmo método da região de Champagne, mas estes vinhos não competem, em termos de qualidade, com os seus semelhantes daquela região.

Os produtores, mesmo os pequenos, normalmente produzem uma grande variedade de vinhos, em termos da uva utilizada e também em termos de classificação. Há os vinhos comuns, sem nenhuma denominação especial, os vinhos reserve e outras denominações de reserva, como reserve personnelle. Há ainda os vinhos feitos com uvas provenientes de um único vinhedo, cujo nome aparecerá no rótulo. No entanto, estas classificações não são reguladas e o fato de um vinho receber a denominação reserve não garante que ele seja de fato especial.

Em 1983, vinte e cinco dos melhores vinhedos da Alsácia foram oficialmente classificados como Grand Cru. Esta classificação foi polêmica e alguns produtores, inclusive que receberam a denominação, não concordaram com a mesma e não utilizam a denominação em seus rótulos. Hoje há 51 vinhedos com esta classificação, que representam cerca de 4% da produção total de vinhos da região, dando origem aos vinhos Grands Crus da Alsácia.

Um vinhedo Grand Cru da Alsácia tem produção limitada por lei a 66 hectolitros por hectare, o que é considerado elevado para a produção de um vinho de alta qualidade (outro motivo de discordância entre os produtores à época da classificação). Como referência de comparação, em Chateauneuf-du-Pape a limitação é de 36 hectolitros por hectare, enquanto um vinhedo não limitado, para produção de vinho barato em grande quantidade, pode alcançar algo em torno de 200 hectolitros por hectare em algumas regiões.

Há muitos bons produtores na Alsácia, mas dois se destacam como excepcionais:

  • Domaine Zind Humbrecht: importado pela Expand – R$ 148 a 485

  • Domaine Weinbach: importado pela Grand Cru – R$ 110 a 390

Alguns produtores que podem ser classificados como excelentes são:
Domaine Marcel Deiss: importado pela Mistral – US$ 40 a 220
Trimbach: importado pela Zahil – R$ 86 a 869
Hugel et Fils: importado pela World Wine – R$ 168 a 340
Domaine Ostertag: importado pela Zahil – R$ 220 a 290
Domaine Leon Beyer: importado pela Vinci – US$ 44 a 90
Domaine Albert Boxler: importadora não localizada
Domaine Schoffit: importadora não localizada

A Alsácia é uma excelente região para se fazer turismo enogastronômico e cultural. Um roteiro básico consome 4 dias e inclui: a bela cidade de Strasbourg, o Château du Haut-Koenigsbourg e a rota dos vinhos, onde há diversas vilas que parecem ter saído de um conto de fadas, com destaque para a charmosa vila de Riquewihr. Mas isto é assunto para outro texto....

Abraço a todos,

Brito.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Aborto da Inteligência

ABORTO DA INTELIGÊNCIA


O uso político eleitoreiro de um tema complexo como o aborto é de causar nojo. Ao invés de gastar energia para apresentar propostas concretas para o país, o candidato dito mais esclarecido, que era a esperança de inteligência na campanha, tem se ocupado, com apoio de grupos religiosos fundamentalistas, em demonizar o outro lado em função de uma posição declarada a favor da legalização do aborto. Interessante observar que este mesmo candidato, em um ato falho, afirmou recentemente: “Nunca disse que sou contra o aborto porque sou a favor; quero dizer, nunca disse que sou a favor do aborto porque sou contra”.

Mas meu objetivo aqui não é discutir política. Como diz o João Ubaldo, a diferença entre político de esquerda e de direita é a mão que ele utiliza para roubar; já o de centro, na dúvida, rouba com as duas mesmo.

No filme “A Caixa”, um casal de classe alta média americana (mãe professora, pai pesquisador da Nasa) recebe a visita de um cidadão enigmático que lhes faz a seguinte proposta, em resumo: eu vou lhes entregar uma caixa com um botão; se vocês apertarem o botão nas próximas 24 horas, vocês ganharão 1 milhão de dólares, mas alguém que vocês não conhecem irá morrer como consequência de seu ato. Depois de muito refletir e discutir, o lado econômico fala mais alto e a mulher aperta o botão. Afinal, a morte de alguém que ela não conhece não vai afetá-la muito. Mas a vida do casal se transforma em um caos e eles acabam vítimas do mesmo teste. Mas também não estou aqui para contar o filme.

Pegando emprestada a questão de fundo do filme, imagine a seguinte situação hipotética: seu filho desaparece e você recebe a visita de alguém que lhe oferece uma caixa com dois botões. Se você apertar o botão verde seu filho volta para casa, cego e surdo para sempre; se apertar o botão vermelho seu filho volta para casa são e salvo, mas 10 pessoas que você não conhece morrem imediatamente; se não apertar botão algum seu filho morre. Com este dilema posto, creio que 99.9% (se não 100%) apertariam o botão vermelho. Afinal, o que são as vidas de 10 pessoas desconhecidas perto da felicidade de seu filho?!

Os políticos que estão usando eleitoreiramente o aborto e os grupos religiosos que os estão apoiando usam o argumento que a legalização do aborto no Brasil, nos moldes do que foi feito em diversos outros países desenvolvidos, significaria uma “carnificina” (palavra de efeito utilizada para chocar os incautos), embora as estatísticas dos países que legalizaram o aborto apontem em sentido contrário.

Por outro lado, segundo estatísticas do SUS, em média, 200 mulheres morrem todos os anos no Brasil em decorrência de complicações de abortos realizados sob condições desumanas. Obviamente que essas mortes são de pessoas pobres, que vivem próximas à miséria e que estão, em geral, muito distantes da vida dos personagens citados neste texto.

As estatísticas também mostram que uma em cada cinco mulheres de até quarenta anos já fizeram aborto! Portanto, esta é uma prática nacional (não admitida), segura para quem pode pagar e às vezes fatal para os mais necessitados.

A questão do aborto no Brasil, portanto, deveria ser tratada como problema de saúde pública e não como problema religioso. Há um falso moralismo e falso interesse pela vida nesta questão. O que temos aqui é uma caixa com dois botões: se apertar o verde, há a chance de aumento no número de abortos e a consequente eliminação de células embrionárias (e não de vidas!); se apertar o vermelho, duzentas mulheres continuarão morrendo todos os anos no Brasil. Que botão você apertaria?

Para finalizar, os mesmos grupos que estão fazendo estardalhaço com a questão do aborto são os que condenam o uso de preservativo em relações sexuais, mas não se importam com as mortes decorrentes da AIDS, que poderiam ser evitadas com o uso da camisinha; ou que condenam o uso de pílula anticoncepcional como método anticonceptivo, mas não se importam com as mortes infantis que decorrem do nascimento de filhos que não podem ser sustentados, dada a pobreza de suas famílias.

Este não é um texto pró ou contra a legalização do aborto e sim um texto a favor da racionalização e da reflexão e contra posições dogmáticas fundamentalistas que nos remetem a séculos passados.

Triste de um país que tem como tema central de sua eleição presidencial a posição de seus candidatos sobre a legalização do aborto, enquanto temos problemas muito mais sérios, que afetam de forma muito mais contundente o direito à vida das pessoas.

Abraço a todos,

Brito.

sábado, 9 de outubro de 2010

Degustação 06 - Merlots do Mundo

Degustação 06 – Merlots do Mundo

Como tratamos esta semana da uva clássica Merlot, a última degustação da semana terá esta uva como tema. Esta degustação foi conduzida por mim, em Santa Rita, em Julho de 2008, e contou com a presença de 09 pessoas.

Os vinhos degustados, às cegas, foram:

1) San Leonardo Merlot 2003 – Trentino – Itália – Mistral – R$ 61,00 – Pontuação: WS 84 e 2 Bichieri do Gambero Rosso
2) Spice Route Merlot 2001 – África do Sul – Expand – R$ 88,00 – Pontuação: WS 89
3) Sileni The Triangle Merlot 2002 – Nova Zelândia – Mistral – R$ 64,00 – Pontuação: RP 89
4) Casa Lapostolle Cuvee Alexandre Merlot 2006 – Mistral – R$ 78,00 – Pontuação: WS 88 e RP 90
5) Château Fombrauge 2002 – Grand Cru Saint-Emillion – Bordeaux – França – Mistral – R$ 146,00 – Pontuação: RP 90 e WS 88
6) Clos Fourtet 2002 1er Grand Cru Classe Saint-Emillion – Bordeux – França – Mistral – R$ 215,00 – Pontuação: RP 90

Mais uma vez, cada participante votou em dois vinhos de sua preferência, totalizando 18 votos. O vinho de maior destaque foi o Clos Fourtet, com 8 votos, seguido do Spice Route com 5 votos. Meu segundo vinho, que ficou em terceiro na classificação geral (com 3 votos), foi o Casa Lapostolle.

Vamos então às notas de degustação e algumas características dos campeões.

Clos Fourtet 2002 – 1er Grand Cru Classe Saint-Emillion

Cor púrpura para rubi. Taninos finíssimos, com boa acidez e muito equilíbrio. Aromas de frutas pretas, ameixa, figo, chocolate, café e especiarias.

A safra de 2005 recebeu 95 pontos da Wine Spectator e 98 pontos do Parker, sendo uma das melhores dos últimos tempos. A safra de 2003 recebeu 93 pontos da Wine Spectator e 94 pontos do Parker e também é uma boa opção. A safra de 2009, ainda não disponível, também foi muito bem pontuada pelo Parker (95-98).

A relação pontuação/preço, para a safra de 2002, não é das melhores se considerarmos a pontuação da crítica, mas pode ser considerada boa para um 1er cru de Bordeaux.

Spice Route Merlot 2001 – África do Sul

Cor rubi. Bons taninos e equilíbrio. Aromas de frutas vermelhas, ameixa, muita especiaria, toque de café, baunilha.

A relação pontuação/preço não é das melhores se nos basearmos na pontuação da crítica, mas, na degustação, o vinho se mostrou melhor do que o esperado (por exemplo, minha nota para ele foi 90.5).

Não há pontuação disponível para safras mais recentes.

Abraços,

Brito.

Degustação 05 - Tintos da França

Degustação 05 – Tintos da França

Como publiquei recentemente um texto descrevendo brevemente as regiões vinícolas da França, a primeira degustação divulgada esta semana terá como tema os vinhos tintos da França. Esta degustação foi conduzida por mim, em Santa Rita, em Agosto de 2007, e teve a presença de 10 pessoas.

Os vinhos degustados, às cegas, foram:

1) Beaujolais Village Louis Jadot 2005 – Borgonha – Gamay – Mistral – R$ 59,00 – Pontuação: RP 87
2) Pommard Louis Jadot 2000 – Borgonha – Pinot Noir – Mistral – R$ 168,00.
3) Cotes du Rhône Villages Louis Bernard 2003 – Rhône – Grenache, Syrah, Mourvedre e Cinsault – World Wine – R$ 42,00 – Pontuação: WS 85
4) Chapoutier Crozes-Hermitage Lês Meysonniers 2004 – Rhône – Syrah – Mistral – R$ 80,00 – Pontuação: RP87
5) Château Corbin 2004 Saint Emilion – Bordeaux – 80% Merlot, 20% Cabernet Franc – World Wine – R$ 180,00 – Pontuação: WS 87
6) Château Ferrière 2004 3ème Grand Cru Classe Margaux – Bordeaux – 80% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot e 5% Petit Verdot – World Wine – R$ 240,00 – Pontuação: WS 87

Cada participante votou em dois vinhos de sua preferência, totalizando, portanto, 20 votos. Dois vinhos se destacaram muito dos demais, recebendo 14 dos 20 votos (7 cada um). Foram eles o Pommard e o Château Corbin.

Vamos então às notas de degustação e algumas características dos campeões.

Pommard Louis Jadot 2000 - Borgonha

Cor tijolo. Vinho com bom equilíbrio. Boa complexidade aromática, com predominância de aromas frutados; frutas negras, ameixa e toque de defumado.

A safra de 2005 recebeu 90 pontos da Wine Spectator.

A relação pontuação/preço não é das melhores, se considerarmos a pontuação da crítica. Mas pode ser considerada boa para um vinho da Borgonha.

Château Corbin 2004 – Saint Emilion – Bordeaux

Vinho da região de Saint Emilion, corte de 80% de Merlot com 20% de Cabernet Franc.

Fermentado em tanques de cimento.

Passou de 16 a 18 meses em barrica de carvalho francês (40 a 50% novas).

Produção de 50 a 60 mil garrafas por ano.

Cor rubi escuro. Taninos finos e bom equilíbrio. Aromas frutados com toque de madeira.

A safra de 2005 recebeu 92 da Wine Spectator e 88 pontos do Parker, sendo uma das melhores entre as safras mais recentes.

A relação pontuação/preço não é das melhores, mas é boa para um vinho de Bordeaux e, por isso, pode ser considerada uma boa opção de compra.

Abraços,

Brito.

Uvas Tintas Clássicas - Merlot


UVAS TINTAS CLÁSSICAS - MERLOT


A Merlot é a grande parceira da Cabernet Sauvignon nos cortes da região de Bordeaux na França, sendo normalmente predominante nas sub-regiões na margem direita do rio Gironde. Comparada à sua parceira ela é menos tânica e amadurece mais rapidamente.

Talvez sua máxima expressão de qualidade esteja na sub-região do Pomerol, seguido de Saint-Emilion, ambas em Bordeaux. Embora nestas regiões seja normalmente cortada com outras uvas, há exceções, como o grande Château Petrus, do Pomerol, um dos vinhos mais famosos do mundo, que é feito praticamente apenas de Merlot.

Também merecem destaque os vinhos Merlot da Itália e dos EUA (principalmente da Califórnia e Washington). Por fim, há também bons Merlots na Austrália, no Chile e na África do Sul.

No Chile, durante muito tempo, confundiu-se a uva Carmenere, também de origem francesa, mas praticamente extinta na França, com a Merlot.

Os vinhos feitos com Merlot são, em geral, menos ácidos e mais aveludados que os feitos com Cabernet Sauvignon. Seus aromas incluem: amora, cassis, cereja, ameixa, chocolate, café e couro.

Além dos Premiers Grands Crus Classés e Grands Crus Classes de Saint-Emilion e dos grandes vinhos do Pomerol, alguns Merlots de boa relação pontuação/preço disponíveis no Brasil são (em ordem crescente de preço):

1) Vina Magana – Baron de Magana Crianza 2004 – 50% Merlot, 30% Cabernet Sauvignon, 10% Tempranillo e 10% de outras uvas – Navarra – Espanha – Vinci – U$ 40,00 – Pontuação: RP 90
2) Concha Y Toro Marques de Casa Conha Merlot 2006 – Chile – Expand – R$ 85,00 – Pontuação: WS 90
3) Casa Lapostolle Cuvee Alexandre Merlot 2006 – Chile – Mistral – U$ 48,00 – Pontuação: RP 87 e WS 90
4) Petra – Quercegobbe Toscana Rosso Merlot 2006 – Toscana – Itália – Cellar – R$ 140,00 – Pontuação: RP 94 e WS 92
5) Te Mata – Coleraine 2006 – 39% Merlot, 36% Cabernet Franc, 25% Cabernet Sauvignon – Nova Zelândia - Mistral – U$ 112,00 – Pontuação: RP 94
Boas degustações.
Abraço a todos,
Brito.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Quanto Mais Velho Melhor?

Quanto Mais Velho Melhor?

É muito comum ouvirmos a frase “tal coisa (ou tal pessoa) é igual vinho, quanto mais velho melhor”.

Mas será que esta frase corresponde à realidade? Será que o vinho realmente melhora à medida que envelhece?

A resposta a esta pergunta é, quase sempre, não! Ou seja, a afirmação de que os vinhos melhoram com a idade é um mito!

Como os seres humanos, todo vinho tem um ciclo de vida. Ele vai melhorando com o tempo, passa por um ápice e começa então o declínio. A figura que ilustra este texto, adaptada do livro “The World Atlas of Wine“ de Hugh Johnson e Jancis Robinson, mostra, de forma genérica, o ciclo de vida de alguns tipos de vinhos: desde um Chardonnay simples do novo mundo até um Grand Cru de Bordeaux ou um grande Riesling alemão.

Para os vinhos com ciclo de vida curto, que são a maioria, o consumo deve ocorrer logo após a produção, como o Chardonnay simples do novo mundo da figura.

Outros, com ciclo de vida um pouco maior, serão melhor apreciados se guardados por uns poucos anos, como os Cabernets Chilenos da figura.

Apenas alguns vinhos especiais são ditos vinhos de guarda e devem ser consumidos, preferencialmente, muitos anos depois de produzidos. Consumir um vinho desta categoria, que em geral é caro, nos primeiros anos após sua produção significa deixar de usufruir de todo o potencial de evolução da bebida e, portanto, degustar uma bebida de qualidade inferior à que seria possível se esperássemos o tempo adequado.

Há vinhos de guarda produzidos na maioria dos principais países do velho mundo e do novo mundo. Alguns exemplos são: os Grand Crus de Bordeaux, na França, já citados; os vinhos de sobremesa de Sauternes, em Bordeaux, na França; os melhores Barolos, Barbarescos e Brunellos, da Itália; os grandes Côte-Rotie e Hermitage, do Rhône, na França; os Grand Grus e Premiers Crus da Borgonha; os vinhos do Porto Vintage; alguns grandes Cabernets Chilenos (como Don Melchor, Almaviva, Montes M, Clos Apalta); os Reservas da Rioja, na Espanha; os melhores Malbec argentinos; e muitos outros.

Mas afinal, o que faz um vinho ser considerado “de guarda”? O que define o potencial de evolução da qualidade de um vinho com o tempo?

Para os vinhos tintos o potencial de guarda está relacionado à estrutura dos vinhos, particularmente à quantidade e qualidade dos taninos. Um tinto de guarda tem uma grande quantidade de taninos de grande qualidade, o que faz estes vinhos serem tânicos quando jovens. No processo de envelhecimento na garrafa os taninos continuam interagindo com os pigmentos e ácidos, formando novos componentes, que muitas vezes se precipitam, gerando a borra no fundo da garrafa.

Para os vinhos brancos, que praticamente não têm taninos, o potencial de guarda está relacionado à acidez. Vinhos brancos de guarda são, em geral, muito ácidos, como os grandes Rieslings alemães. Mais uma vez, o processo de envelhecimento resulta em transformações nas famílias aromáticas, gerando vinhos mais complexos com o passar do tempo.

Outro elemento que contribui para o potencial de guarda de um vinho é o seu teor de açúcar. Os grandes vinhos de sobremesa envelhecem muito bem, pois, além do alto teor de açúcar, possuem grande acidez, que é a responsável por não tornar o vinho doce em algo enjoativo.

Por fim, o teor de álcool também contribui para a longevidade de um vinho. Aqueles mais alcoólicos, como os vinhos do Porto, também tendem a ser mais longevos.

É importante ressaltar, porém, que cada um dos elementos de longevidade descritos acima (taninos, acidez, açúcar e álcool) não é suficiente para a melhora da qualidade do vinho com o tempo. Ou seja, é preciso um conjunto de fatores para que o vinho envelheça bem. Por exemplo, um vinho doce de qualidade ruim, sem uma boa acidez, pode até durar bastante tempo na garrafa, mas não vai melhorar com o tempo, pois lhe falta o equilíbrio do açúcar com a acidez. Da mesma forma, um vinho do Porto simples, que possui teor alcoólico elevado, não irá melhorar com o tempo, pois lhe falta a estrutura dos taninos. Já um Porto Vintage irá evoluir maravilhosamente bem, pois trata-se de um vinho com grande estrutura.

Vale destacar também que o tamanho da garrafa influencia no processo. Garrafas maiores, como as magnum de 1.5 litros, resultam em um envelhecimento mais lento do que as garrafas comuns. Ou seja, o vinho leva mais tempo para atingir seu ápice nestas garrafas. Isto ocorre em função da menor quantidade de oxigênio disponível na garrafa magnum, proporcional à quantidade de líquido, quando comparada com a garrafa normal.

Mas o que ganhamos no processo de envelhecimento de um vinho de guarda?

Nos tintos, com o passar do tempo, os taninos vão se suavizando e novos componentes aromáticos vão surgindo, dando origem ao que denominamos bouquet. A qualidade do vinho vai aumentando, com seus aromas tornando-se mais complexos e o vinho mais equilibrado (com menos tanino sobrando). Neste caso, o fato do vinho ter passado por um estágio em barrica de carvalho, antes do engarrafamento, contribui bastante para o surgimento de novas famílias aromáticas no processo de envelhecimento.

Nos brancos os ganhos são semelhantes, há o surgimento de novos aromas, aumentando a complexidade aromática, e o vinho também vai se tornando mais equilibrado.

Outra alteração perceptível, embora não influencie na qualidade do vinho, ocorre na cor. Ou seja, à medida que vão envelhecendo os vinhos vão mudando de cor. Os tintos vão ficando mais claros e os brancos mais escuros.

Em conclusão, se você tem uma garrafa de vinho mediano que estava guardando para uma ocasião especial, pegue-a e tome-a antes que seja tarde.

Abraço a todos,

Brito.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

França - O País do Vinho


FRANÇA – O PAÍS DO VINHO

Como já dissemos, a França é o mais importante produtor de vinho do mundo.

Embora produza vinhos de excelente qualidade de todos os tipos (espumantes, brancos, tintos, doces, etc..), cerca de 2/3 dos vinhos produzidos na França são tintos.

A figura que ilustra este texto mostra as diversas regiões vinícolas da França. Como podemos ver, há produção de vinho em praticamente todo o país. O clima varia muito, sendo continental ao norte (região de Champagne, por exemplo), com invernos rigorosos e frios, mediterrâneo ao sul (como na região do Rhône), com mais sol e calor, e marítimo na região da costa atlântica (como em Bordeaux).

Há uvas que melhor se adaptam em cada região, em função de suas características climáticas e de solo. Logo, cada região é especializada em determinado tipo de uva e/ou determinado tipo de vinho.

Nosso objetivo neste texto é fazer uma breve descrição das principais regiões. Voltaremos a cada uma delas em textos posteriores, que irão tratá-las em mais detalhe.

A ordem escolhida para a apresentação é a ordem que utilizei para visitar as regiões há alguns anos e novamente neste ano.

Alsácia

Devido à proximidade com a fronteira da Alemanha, a Alsácia recebeu grande influência deste país nos mais diversos aspectos, inclusive nos vinhos (de fato, a Alsácia já pertenceu a Alemanha no passado).

Os principais vinhos de interesse desta região são brancos varietais, com os grandes vinhos sendo feitos com as uvas Gewurztraminer, Pinot Gris e Riesling.

A classificação contempla apenas dois níveis: os vinhos normais, classificados como AOC (Appelation d’Origine Contrólée) e Grand Cru. Há 50 vinhedos classificados como Grand Cru, mas há muita controvérsia quanto a esta classificação e alguns produtores preferem, mesmo possuindo vinhedos com esta classificação, não utilizá-la em seus rótulos. Há também vinhos classificados como Premier Cru (do produtor Marcel Deiss), mas esta classificação não é oficial.

Os melhores vinhos grands crus são encorpados e possuem grande acidez, tendo bom potencial para guarda.

Borgonha

Pode-se dizer que a Borgonha é uma região de extremos, produzindo vinhos de qualidade excepcional, entre os melhores do mundo, e vinhos não tão bons.Dentre os melhores, vale destacar os antológicos Domaine de la Romanee-Conti.

Há excelentes brancos, feitos com a uva Chardonnay, e tintos, feitos com a uva Pinot Noir, mas a predominância aqui é dos tintos.

Um pouco mais ao sul há também os vinhos da região de Beaujolais, feitos com a uva Gamay, que muitos não consideram como vinho da Borgonha, embora oficialmente seja.

Os vinhos são classificados, em ordem crescente de qualidade, em Borgonha (Appelation Bourgogne Contrólée), vinhos de aldeia (Vin de Village – Appelation “nome da aldeia” Contólée), Premier Cru e Grand Cru.

Rhône

Esta região se divide em duas partes, norte e sul, que possuem características completamente diferentes e produzem vinhos também completamente diferentes, a começar das uvas utilizadas.

Embora haja excelentes brancos, os tintos predominam nas duas partes.

No norte os vinhos tintos são varietais feitos com a uva Syrah e os brancos são feitos com a uva Viognier ou um corte de Marsanne com Roussanne.

Os tintos mais famosos da parte norte são provenientes das sub-regiões Hermitage (ou Ermitage) e Côte-Rotie, enquanto os brancos provêm da sub-região de Hermitage.

No sul os vinhos são cortes de vários tipos de uva. Para os tintos a uva principal é a Grenache (complementada no corte com Syrah, Mourvédre, Cinsault e outras), enquanto para os brancos é a Grenache Blanc.

Os vinhos mais prestigiados desta região, tanto brancos quanto tintos, são os provenientes da sub-região Chateauneuf-du-Pape, que pode ter mais de dez uvas utilizadas em seu corte.

Bordeaux

Mais uma região com predominância dos tintos, embora novamente haja vinhos brancos excelentes.

Os tintos são cortes de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot e, às vezes, Malbec.

Nas sub-regiões da margem esquerda do rio Gironde a predominância é, em geral, da uva Cabernet Sauvignon, enquanto na outra margem normalmente há predominância da Merlot.

Os brancos são cortes, principalmente, de Sémillon com Sauvignon Blanc.

Há 57 denominações distintas. Em geral, quanto mais específica for a denominação, melhor será o vinho. Você pode pensar o sistema de denominações como uma série de caixas, uma dentro da outra. A maior, mais geral, é a caixa Appelation Bordeaux Contrólée; depois são aquelas relacionadas com sub-regiões, como Haut-Médoc. Vinhos ainda melhores estão em caixas menores, como a sub-região Margaux dentro da sub-região Haut-Médoc.

Há um sistema de classificação dos vinhos que varia de sub-região para sub-região, sendo a classificação do Médoc, criada em 1855, a mais famosa (veja texto Grand Cru, Premier Cru,..., já publicado). Esta classificação elegeu os melhores vinhos da região, denominados Grands Crus, e os dividiu em cinco níveis: de Premier Cru a Cinquième Cru. Posteriormente surgiram também os vinhos classificados como Cru Bourgeois, que estão logo abaixo dos Grands Crus.

Por fim, há que se destacar os vinhos doces feitos na sub-região de Sauternes, que são considerados os melhores do mundo. A principal uva destes vinhos é a Sémillon.

Loire

Comparativamente menos importante que as demais citadas neste texto, os grandes vinhos do Vale do Loire são os brancos feitos das uvas Sauvignon Blanc e Chenin Blanc.

Champagne

Região mais ao norte na França, produz os melhores vinhos espumantes do mundo. Apenas os espumantes produzidos nesta região podem ser denominados de Champagne.

Um Champagne é, na verdade, um corte de 30 a 60 vinhos (e não uvas) não espumantes, que podem ser de diversas safras, para o Champagne normal, ou de uma única safra considerada excepcional, para os Champagnes denominados safrados.

O processo de produção envolve uma 2ª fermentação ocorrida na garrafa, na qual o CO2 gerado fica aprisionado, dando origem à natureza gasosa do vinho.

Os vinhos podem ser brancos ou roses e possuem diversos graus de secura diferentes, variando do Extra Brut (quase sem açúcar residual) ao Doux (muito doce).

Em geral utilizam-se três uvas na produção do Champagne, a branca Chardonnay e as tintas Pinot Noir e Pinot Meunier. No entanto, há vinhos feitos só com Chardonnay, denominados Blanc de Blancs, e só de Pinot Noir, denominados Blanc de Noirs, embora este último seja mais raro.

Com isto encerramos esta breve viagem pelas principais regiões vinícolas da França. Voltaremos a tratar estas regiões em textos dedicados a explorar com mais profundidade suas características e outros dedicados a mostrar, além dos vinhos, os potenciais turísticos, culturais e gastronômicos de cada região.

Abraço a todos,

Brito.

domingo, 3 de outubro de 2010

Degustação 04 - Cabernets do Mundo II

Degustação 04 – Cabernets do Mundo II

A segunda desgutação divulgada esta semana também é de Cabernets e foi realizada em Santa Rita, em Abril de 2008, com a presença de 12 pessoas.

Desta vez resolvi servir 7 vinhos, com um brasileiro simples misturado no meio para ver o que ia dar. Mais uma vez a degustação foi às cegas.

Os vinhos degustados foram:

1) Rio Sol Reserva Cabernet 2003 – Vale do São Francisco – Brasil – R$ 49,00

2) Château Beaumont Cru Borgeois 2001 – Bordeaux – França – Mistral - R$ 68,00 – Pontuação: RP 86-87

3) Château Fourcas Housten Cru Borgeois 2003 – Bordeaux – França – Mistral – R$ 73,00 – Pontuação: RP 86-87

4) Kanonkop Cabernet Sauvignon 2002 – Stellenbosch – África do Sul – Mistral – R$ 82,00 – Pontuação: WS 88

5) Vina Arboleda Cabernet Sauvignon 2003 – Vale Del Aconcagua – Chile – Expand – R$ 85,00 – Pontuação: RP 89

6) Peter Lehmann Cabernet Sauvignon 2003 – Barossa Valley – Austrália – Expand – R$ 88,00 – Pontuação: WS 89

7) Stag’s Leap Wine Cellars – Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2004 – Califórnia – Estados Unidos – Mistral – R$ 64,00

Note que, dos sete, dois haviam sido servidos na degustação Cabernets do Mundo I, com mudança apenas de safra (o francês e ou australiano).

Cada participante votou em dois vinhos de sua preferência, totalizando, portanto, 24 votos. Dois vinhos se destacaram muito dos demais, recebendo 22 dos 24 votos. Foram eles o Arboleda (com 12 votos) e o Beaumont (com 10 votos), sendo que este, em outra safra, também havia se destacado na degustação anterior.

Interessante notar que o brasileiro foi eleito o pior vinho da noite. E não podemos dizer que é preconceito, pois a degustação foi às cegas.

Vamos então às notas de degustação dos campeões.


Vina Arboleda Cabernet Sauvignon 2003

Passou 14 meses em barrica de carvalho francês e americano.

Cor rubi escura. Bons taninos, acidez e equilíbrio. Aromas de frutas escuras e muita menta.

A safra de 2007 recebeu 88 pontos do Parker e 87 da Wine Spectator.

A relação pontuação/preço não é das melhores se considerarmos a pontuação da crítica. No entanto, o vinho recebeu dos presentes pontuação bem superior à da crítica (93 pontos, contra 89 do Parker).


Château Beaumont Cru Bourgeois 2001 – Bordeaux – França

Vinho da região do Haut-Médoc, feito com corte de: 60% de Cabernet Sauvignon, 35% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e Petit Verdot.

Videiras com 25 anos de idade. Fermentado em aço inox e amadurecido em barricas (1/3 novas) por 14 meses.

Cor rubi. Taninos finos, boa acidez e bom equilíbrio. Aromas de tabaco, couro, especiaria, frutas vermelhas e café.

A safra de 2005, mais recente, recebeu 88 pontos da Wine Spectator e 87-88 pontos do Parker.

A relação pontuação/preço não é das melhores, mas é boa para um vinho de Bordeaux e, por isso, pode ser considerada uma boa opção de compra.

Abraços,

Brito.

Degustação 03 - Cabernets do Mundo I

Degustação 03 – Cabernets do Mundo I

Como na semana passada escrevi um pouco sobre a uva Cabernet Sauvignon, esta semana apresentarei duas degustações que organizei com esta uva como tema, ambas denominadas Cabernets do Mundo.

A primeira, descrita neste texto, foi realizada em Setembro de 2007 em minha casa e contou com a presença de seis pessoas.

Mais uma vez os vinhos foram servidos às cegas, com os participantes conhecendo os vinhos que iriam ser degustados, assim como suas características, mas não a ordem da degustação.

Os vinhos degustados foram:

1) Uxmal Cabernet 2006 – Argentina – Mistral – R$ 21,00

2) Finca Antigua Cabernet 2003 – La Mancha – Espanha – Mistral – R$ 40,00

3) Vina Montes – Montes Alpha Cabernet 2005 – Chile – Mistral – R$ 66,00 – Pontuação: WS 89 e RP 89

4) Neil Ellis Winery Cabernet 2002 – Stellenbosch – África do Sul – Expand – R$ 98,00 – Pontuação: JP Outstanding

5) Peter Lehman Cabernet 2002 – Barossa Valley – Austrália – Expand – R$ 90,00 – Pontuação: WS 90

6) Château Beaumont Cru Bourgeois 2003 – Bordeaux – França – Mistral – R$ 82,00 – Pontuação: RP 87

Cada participante votou em dois vinhos de sua preferência, totalizando, portanto, 12 votos. Os dois mais votados, ambos com 3 votos cada (e ambos com meu voto), foram o francês e o chileno.

Vamos então às características dos campeões.

Vina Montes - Montes Alpha Cabernet 2005

Vinho com 90% de Cabernet Sauvignon e 10% de Merlot.

Cor rubi escura. Bons taninos e acidez, muito equilibrado. Aromas frutados, com toque de especiarias, madeira, couro e café.

A safra de 2007 recebeu 91 pontos do Parker e 89 da Wine Spectator e é uma boa dica de compra.

Château Beaumont Cru Bourgeois 2003 – Bordeaux – França

Vinho da região do Haut-Médoc, feito com corte de: 60% de Cabernet Sauvignon, 35% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e Petit Verdot.

Videiras com 25 anos de idade. Fermentado em aço inox e amadurecido em barricas (1/3 novas) por 14 meses.

Cor rubi para tijolo. Bons taninos e boa acidez, equilibrado e elegante na boca. Aromas frutas com toque de chocolate, café e tabaco.

A safra de 2005, mais recente, recebeu 88 pontos da Wine Spectator e 87-88 pontos do Parker.

A relação pontuação/preço não é das melhores, mas é boa para um vinho de Bordeaux e, por isso, pode ser considerada uma boa opção de compra.

Abraços,

Brito.