quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Grand Cru e Premier Cru

CRIANZA, RESERVA, GRAN RESERVA, GRAND CRU e PREMIER CRU (contin.)

Vamos continuar a descrição da classificação dos vinhos, iniciada no texto Reserva, Gran Reserva, Grand Cru e Premier Cru.

A França foi o país que introduziu o conceito de terroir, um conjunto de aspectos ligados ao clima e ao solo, que estabelece o local como o principal responsável pela qualidade do vinho. Alguns produtores franceses afirmam que a qualidade do vinho se faz 70% no vinhedo e 30% na vinícola. Este conceito deu origem, em algumas regiões da França, a uma classificação baseada na localização da videira.

As classificações Grand Cru e Premier Cru têm significado diferente dependendo da região à qual estamos nos referindo e são reguladas em cada região por lei específica. Assim, a definição de Grand Cru em Bordeaux é diferente da mesma definição na Borgonha, por exemplo. Pior do que isto, às vezes a classificação tem significado diferente em diferentes sub-regiões de uma mesma região.

A classificação do Médoc, sub-região de Bordeaux, foi a primeira (estabelecida originalmente em 1855 com base nos preço de venda dos vinhos à época) e definiu quatro châteaus denominados de Premiers Crus (1º crus), quatorze Deuxièmes Crus (2º crus), quatorze Troisièrnes Crus (3º crus), dez Quatrièmes Crus (4º crus) e dezoito Cinquièmes Crus (5º cru). Em 1973, o famoso Château Mouton-Rothschild subiu de Deuxième Cru para Premier Cru, e esta foi a única mudança que ocorreu na lista original. Estes 60 vinhos são os chamados Grands Crus Classés do Médoc, com os Premiers Grands Crus Classés ocupando posição de destaque. Em conclusão, na classificação do Médoc, Grand Cru Classé é sinômino de status, preço e, quase sempre, qualidade fora do padrão.

Os cinco vinhos classificados como Premiers Crus na classificação do Médoc são: Château Margaux, Château Latour, Château Haut-Brion, Château Lafite-Rotshcild e Château Mouton-Rothschild. Salientando que, na verdade, o Château Haut-Brion fica na região de Graves e não no Médoc. Estes vinhos custam, no Brasil, algo em torno de R$ 2.000,00 a garrafa, para uma safra recente não excepcional.

Na sub-região de Saint-Emillion, também em Bordeaux, os melhores vinhos são classificados em Premiers Grands Crus Classes (divididos em Classe A e Classe B), seguidos pelos Grands Crus Classes. Na classificação original, de 1954, onze Châteaus foram denominados de Premiers Grands Crus Classes e cinqüenta e três como Grands Crus Classes. Diferente da classificação do Médoc, esta é revisitada a cada dez anos. Na revisão de 2006, 16 châteaus foram classificados como Premiers Grands Crus Classés, sendo dois de classe A (châteaus Ausone e Cheval Blanc), e 47 como Grands Crus Classés. Nesta região há vários vinhos que ostentam no rótulo a denominação Grand Cru, mas que não devem ser confundidos com os oficialmente classificados como Grands Crus Classés.

Outro exemplo de classificação diferente foi a adotada nas sub-regiões de Sauternes e Barsac, nas quais um château, Château d’Yquem, se destacava tanto que recebeu a denominação de Premier Cru Supérieur Classé.

Em resumo, em Bordeaux, Grand Cru Classé é sinônimo de prestígio, preço e, quase sempre, qualidade, com os Premiers Crus ocupando lugar de destaque.

Para se ter idéia da importância destes vinhos, devemos lembrar que em Bordeaux há milhares de vinícolas.

Vale ressaltar que, embora a classificação tenha por espírito a valorização do terroir, no Médoc ela está atrelada ao château e não ao terreno. Ou seja, se um château comprar o terreno do seu vizinho, o vinho produzido passa a ter a classificação do château comprador.

Saltando de Bordeaux para a Borgonha, vemos que o significado da classificação também sofre um salto. Os vinhos da Borgonha são classificados como Borgonhas tintos e brancos (vinhos básicos que correspondem a 52% dos vinhos produzidos na região), seguidos dos Vin de Village (aldeia), que são provenientes de uvas plantadas exclusivamente naquela Village ou em torno dela (que correspondem a 35% dos vinhos produzidos na Borgonha), dos Premiers Crus, que provêm de um vinhedo específico (há 562 vinhedos classificados como Premiers Crus na Borgonha, que produzem 11% dos vinhos da região) e, por último, dos Grands Crus, que é a mais alta designação da Borgonha. Os trinta e três vinhedos classificados como Grands Crus na Borgonha são responsáveis por apenas 2% da produção da região.

Logo, Grand Cru e Premier Cru também são designações que também indicam prestígio, preço e qualidade na Borgonha, mas aqui o Grand Cru é um vinho superior ao Premier Cru, enquanto em Bordeaux a designação Premier Grand Cru Classé é superior ao Grand Cru Classé (que é a denominação adotada normalmente pelos Grands Crus Classés que estão mais na base da pirâmide, ou seja, mais perto do Cinquièmes Crus).

Deve-se ressaltar que a classificação da Borgonha está ligada ao vinhedo e não à vinícola.

Estas classificações não são comuns em outras partes do mundo (e mesmo em outras partes da França), embora o conceito de classificar o vinho pela qualidade do vinhedo venha se tornando comum em diversos países e regiões. Neste caso, o produtor normalmente identifica no rótulo o nome do vinho e o nome do vinhedo de procedência das uvas. Por exemplo, o vinho italiano Brunello di Montalcino Casanova di Neri Cerretalto, é produzido apenas com uvas do vinhedo denominado Cerretalto (e apenas nos melhores anos) da vinícola Casanova di Neri. Outro exemplo é o vinho argentino Catena Zapata Adrianna Vineyard, que é produzido apenas com uvas provenientes do vinhedo denominado Adrianna.

Não se preocupe se você achou esta classificação um pouco confusa, na verdade ela é ainda um pouco mais confusa, mas vamos desvendando estes mistérios à medida que formos progredindo e tratando cada uma das regiões em separado.

Abraço a todos,

Brito.

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