domingo, 19 de setembro de 2010

Patriotismo, "Cordeirismo" ou Imbecilidade?

Patriotismo, Cordeirismo ou Imbecilidade?

Depois de um longo vôo de cerca de 10 horas, estava no Forth Worth Airport, em Dallas, matando o tempo com um Soduku, à espera de meu próximo vôo que me levaria para Honolulu. O tempo de espera previsto era de umas três horas, das quais eu já havia gasto cerca de 1 hora simplesmente andando pela área de embarque para tentar localizar alguma coisa interessante para fazer. Havia encontrado um Wine Bar, mas infelizmente ele estava fechado e só me restavam os vários restaurantes de estilo americano para matar o tempo. Comi alguma coisa e fui me sentar perto do meu portão para ler algo, mas acabei optando por voltar ao Sodoku, que estava fazendo pela primeira vez, mas que havia me conquistado de maneira definitiva.

Embora distraído em meus pensamentos matemáticos, percebi quando um velhinho se aproximou de outro passageiro que estava a alguns metros de mim e falou algo sobre Afeganistão. Eu já havia visto este senhor perambulando pela área de embarque e havia notado um crachá de voluntário que ele carregava no peito, embora não tivesse captado sua função ou objetivo. A primeira coisa que me veio à mente quando ele mencionou a palavra Afeganistão, é que havia ocorrido alguma mudança de portão de embarque e que ele estava tentando avisar as pessoas. Alguns minutos depois ele se dirigiu a mim e novamente falou algo, que não entendi, mas que continha a palavra Afeganistão. Como eu já havia concluído que se tratava de uma mudança de portão de embarque, simplesmente respondi que eu não ia para o Afeganistão e voltei para o meu Sodoku.

Decorridos uns quinze minutos comecei a perceber uma grande movimentação ao meu redor. Logo a seguir, comecei a ouvir gritos de “obrigado” e “bem-vindo de volta ao lar”. Não conseguia entender absolutamente nada e, olhando para trás, percebi que praticamente todas as pessoas daquela ala do aeroporto estavam de pé, aplaudindo, gritando e olhando para cima. Ao acompanhar o olhar das pessoas percebi que havia um grande corredor envidraçado ao nível do segundo andar, que era utilizado para desembarque de passageiros, pelo qual estavam passando um grande número de soldados uniformizados.

Finalmente pude então compreender o que significava a referência ao Afeganistão na pergunta que o velhinho havia me feito. Aquelas pessoas que estavam desembarcando eram soldados provenientes do Afeganistão e ele havia me convidado para participar de uma espécie de cerimônia de boas vindas.

Fiquei por alguns minutos observando os soldados que desembarcavam e a reação das pessoas que estavam no saguão e que continuavam gritando, capitaneadas pelo velhinho, frases de “muito obrigado” e “bem-vindo de volta ao lar”. Aquela manifestação me causou profundo desconforto. Eu via garotos, moleques mesmo, desfilando com seus uniformes, e um grande número de pessoas gritando e aplaudindo como se eles fossem verdadeiros heróis. A pergunta que eu me fazia era: que raios essas pessoas pensam para considerar que estes moleques sejam heróis. Eles foram para longe de casa (sim), para lutar em uma guerra imbecil, criada por um governante ainda mais imbecil e, portanto, deveriam ser tratados como completos imbecis e não como heróis. Será que estas pessoas que estavam no saguão já haviam parado para pensar sobre o que realmente significava aquela empreita em um país remoto, completamente sem importância, cujos líderes, que neste momento estavam sendo combatidos, haviam chegado ao poder com a ajuda do próprio Estados Unidos em um passado não muito distante. Será que eles aplaudiriam se um de seus filhos estivesse naquele momento participando daquela guerra. Será que eles aplaudiriam se tivessem perdido um filho que fora enviado para o fim do mundo para, ao menos oficialmente, capturar um maluco que nunca foi encontrado. Acho que não!

Um pouco confuso, me sentei novamente, coloquei o fone do meu IPod para não ouvir a manifestação e voltei ao meu Sodoku. Mas não conseguia deixar de pensar: o que de fato motivou aquela manifestação: patriotismo exacerbado, que é impensável para nós brasileiros; o sentimento de rebanho que tende a acompanhar uma voz de comando, representada pelo pedido insistente do velhinho; ou simplesmente a imbecilidade de realmente se achar o xerife do mundo e aplaudir qualquer ação da nação neste sentido, desde que não envolva a mim ou qualquer um que eu ame?

Mais recentemente, neste ano no USOPEN, estava comendo um fast-food em uma mesa do complexo e de repente começei a ouvir palmas e gritos quase histéricos de entusiasmo. Levantei os olhos em busca do que estava ocorrendo, achando que encontraria o Federer ou o Nadal caminhando pelo complexo, e encontrei um grupo de pessoas fardadas (soldados?) carregando uma bandeira americana, em formação militar, em direção do estádio Arthur Ashe. Como haveria uma cerimônia de abertura naquele estádio em alguns minutos, conclui que o grupo estava carregando uma big bandeira que seria aberta na quadra. Mais uma vez pensei, o que leva este monte de gente a sair gritando de forma quase histérica ao ver um grupo de pessoas com farda carregando uma bandeira? Isto é mesmo patriotismo ou mera imbecilidade?

Sobre patriotismo eu prefiro a famosa frase de Samuel Johnson, pensador inglês do século XVIII: “O patriotismo é o último refúgio de um canalha”.

Abraço a todos,

2 comentários:

  1. excelente texto , esta para nascer um povo tão imbecilizado qto o norte-americano, é incrível o poder da mídia , entre propagandas e filmes que enaltecem o individuo que " dá" a sua vida pelo " seu" país, porem nenhum deles param p se perguntar se o " seu " pais já lhes deu alguma coisa. Ainda mais nos EUA onde TUDO é pago, sistema de saúde , faculdade e tdo mais. O sistema é assim, qdo precisa da massa de cordeirinhos o país é de todos, mas qdo se trata de repartir os lucros , ai é só a elite que abocanha.

    ResponderExcluir
  2. Patriotismo deveríamos todos ter. Respeitar e lutar por melhores valores de uma nação não é imbecilidade. Manifestações de apoio ao soldados sao benvindas, podemos discordar das motivações da guerra, mas isso é outra questão. Tenha certeza que a sociedade norte americana jamais toleraria de maneira pacífica a rapinagem que nossos políticos nos impoem...a sociedade daquele país foi forjada a ferro e fogo com guerras internas que definiram o futuro, são trabalhadores e obcecados pelo direito a liberdade.

    ResponderExcluir