domingo, 1 de maio de 2011

A Grande Surpresa

A GRANDE SURPRESA

De repente sofre um forte empuxo, como se estivesse mudando de mundo. Mas como isto é possível? Se o mundo é um só, não há como se considerar esta hipótese e, portanto, tem certeza que continua no mesmo mundo. Então, o que está acontecendo?

Após alguns segundos, a sensação inicial começa a se transformar em grande desconforto, como se algo muito importante começasse a lhe faltar. Ainda sem entender bem o que está acontecendo, olha para um lado, olha para o outro, e nada lhe parece familiar! Onde estou afinal?

O desconforto vai então aumentando, não aos poucos, como é praxe dos desconfortos que aumentam (a grande maioria se mantém estável), mas de forma exponencial. A opressão que sente é tanta que é como se, de repente, o mundo todo caísse em seus ombros instantaneamente.

Neste momento se pergunta: o que está acontecendo comigo? Estava tão tranqüilo há alguns segundos, me preparando para meu almoço e, sem mais nem menos, à primeira mordida na minha refeição, tudo vira pelo avesso, o mundo se transforma, não consigo mais identificar nada e sequer consigo mais ser dono de meus movimentos e, pior, da minha respiração.

O que estou sofrendo? Nunca ouvi falar de uma intoxicação alimentar que fosse capaz de causar sintomas tão intensos e tão rápidos. Logo, não é provável que isto seja uma intoxicação, da qual, após alguns dias, consiga me livrar, embora com algum sofrimento.

Neste momento, pela primeira vez, lhe vem à mente que está passando por algo grave, que pode resultar em sua morte. Mas como isto é possível, ele ainda é jovem e se considera um grande esportista, pois passa a maior parte do tempo nadando. Jovens esportistas não são, de um modo geral, acometidos de doenças graves e, portanto, esta possibilidade, embora agora real para ele, não lhe parece natural.

Por que isto está acontecendo comigo? Como assim estou morrendo?

O medo da morte, que até então era apenas uma sensação inicial, vai se fortalecendo. De fato, já não é só medo, é quase uma certeza. O ar começa a lhe faltar mais e mais; a opressão que sentia começa a aumentar de forma absurda. Começa a sentir uma dor tão aguda que, mesmo antes de morrer, preferia estar morto. Pior, esta morte que agora tanto deseja não lhe chega rápido.

Queria ser religioso para, neste momento, clamar a seu Deus que acabasse logo com isto e abreviasse este sofrimento tão intenso. Mas ele não lhe atende e o sofrimento se estende, por infinitos minutos.

Então, finalmente, em um último lampejo de lucidez, dá-se conta que aquele almoço no qual deu a primeira mordida, não era de fato o almoço ao qual estava acostumado todos os dias, e sim a isca de um pescador que estava à sua caça. Na ânsia de obter uma refeição rápida, acabou enganado por uma simples armadilha, que lhe custou a vida, com uma morte lenta e dolorida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário