quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Viajando pela Borgonha - Parte II

Viajando pela Borgonha – Parte II

A rota dos Grands Crus da Borgonha é uma estrada secundária que liga Dijon a Beaune, no coração da região dos grands crus. São cerca de 45 km de estrada, passando, dentre outros vilarejos, por Fixin, Gevrey-Chambertin, Morey-St-Denis, Chambolle-Musigny, Vougeot, Vosne-Romanée, Nuits-St-Georges, Aloxe-Corton e, finalmente, Beaune. Ao sul de Beaune ainda há várias outras vilas importantes, como Pommard, Volnay, Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet. O tempo para percorrer este trajeto depende de quantas vilas e vinícolas você quer visitar.

O ponto central da região de Côte d’Or é a pequena cidade de Beaune, com 22.000 habitantes. O centro velho da cidade, que é onde estão as principais atrações, pode facilmente ser explorado a pé em um único dia. Há dezenas de lojas de vinhos oferecendo degustações, vários bar à vin que oferecem uma grande variedade de vinhos em taça, cafés, restaurantes, brasseries, etc. Ou seja, há dezenas de oportunidades para explorar os vinhos e a culinária da Borgonha, em uma vila pequena, charmosa e agradável.

A grande atração turística de Beaune é o Hotel-Dieu. Originalmente uma hospedaria, fundada em 1443, hoje o prédio é uma jóia arquitetônica medieval que abriga várias obras de arte religiosas, além de uma espécie de museu. Seus telhados coloridos vitrificados oferecem um visual deslumbrante e são um espetáculo à parte.

Em minha última visita a Beaune, ao sair do Hotel-Dieu, nos deparamos com uma espécie de feira de espumantes da Borgonha. Vários produtores estavam expondo seus vinhos para degustação, com a única condição de que se comprasse uma taça de degustação, que estava à venda por E$ 3. Compramos a taça e experimentamos uma meia dúzia de bons vinhos (o foco era: espumantes da Borgonha). Junto com a exposição estava ocorrendo alguns eventos da escola de vinhos da Borgonha, infelizmente em Francês. Mas, mais do que os vinhos e as palestras, o que nos chamou a atenção foi a forma que eles utilizaram para ilustrar as diversas famílias de aromas que podemos encontrar em um vinho. Eles criaram um espaço com vários decanters gigantes (veja foto no álbum), cada um contendo produtos naturais daquela família aromática (por exemplo, para ilustrar o aroma de frutas vermelhas havia um decanter com vários tipos de frutas vermelhas). Esta experiência sensorial foi realmente interessante; pena que são necessários muito espaço e muito dinheiro para reproduzir este experimento em nossas degustações.

Em termos gastronômicos, há dois restaurantes com uma estrela do Guia Michelin na cidade, além de mais dois localizados nos arredores.

Uma boa dica é o restaurante Loiseau dês Vignes (http://www.bernard-loiseau.com/FR/BOURGOGNE/vignes/), no centro histórico de Beaune. Um local aconchegante, com cozinha de alta qualidade (uma estrela) voltada para pratos clássicos da culinária local. Há uma grande oferta de vinhos em taça, o que abre possibilidades interessantes de harmonização. Uma boa escolha é pedir o menu degustação, E$ 75 (sem a bebida), e ir tentando harmonizar cada prato servido com um vinho diferente.

Mas nem tudo são rosas em uma viagem como esta. No segundo dia em Beaune, no almoço, escolhemos um restaurante ao acaso no centro da cidade e tivemos a primeira surpresa negativa: pedimos um prato que tinha no nome Confit de Canard (não entendemos o resto por falta de habilidade com a língua francesa) e comemos, na verdade, uma espécie de escondidinho de pato desfiado, decepcionante. Nem o vinho, que também foi escolhido ao acaso, impressionou. Ou seja, esquece...

Na segunda noite saímos para jantar sem ter feito reserva, pois não era alta temporada, e encontramos todos os restaurantes da minha lista lotados. Acabamos voltando para o hotel e tendo um jantar mais modesto do que o planejado, embora bom. Lição aprendida: não custa nada dar um telefonema e reservar o restaurante logo que chegar à cidade ou mesmo mandar um e-mail com alguns dias de antecedência com o mesmo objetivo.

Visitar vinícolas na Borgonha não é muito simples. Muitas delas são muito pequenas e não é possível sequer encontrar um ponto de contato para solicitar a visita. Há algumas poucas vinícolas grandes em que isto é mais fácil, como Louis Jadot e Joseph Drouhin.

Vale ressaltar que a visita a vinícolas é importante, principalmente quando é realizada de forma mais intimista e não turística, para adquirir conhecimentos sobre os métodos e técnicas da região a partir de conversas com quem faz! No entanto, entre uma visita meramente turística, na qual você será burocraticamente atendido junto com um grupo de dezenas de pessoas, e uma boa tarde gasta em um bom bar à vin, onde você terá oportunidade de degustar vários vinhos de várias regiões, fique com a última opção.

Em minhas duas idas à Borgonha tentei visitar vinícolas menores, nas quais teria mais chance de conversar com o enólogo ou mesmo com o proprietário. As três vinícolas que visitei foram:

Chateau de La Tour Clos de Vougeot: a vinícola foi construída em 1890 e possui 6 hectares de videiras (a maior de Clos de Vougeot). O chateau trabalha com produtividade baixa na videira, 29 hectolitros por hectare, permitindo a vinificação de vinhos diferenciados. A fermentação é feita em aço inoxidável e o amadurecimento utiliza barrica nova de carvalho francês em função da estrutura de cada safra. Aromas esperados para o vinho são: trufas, alcaçuz, violeta e menta. O atendimento na vinícola não é bom e você não irá obter informações técnicas sobre o processo de vinificação, mas poderá degustar algumas poucas safras a um preço razoável

Domaine Chandon de Briailles: este domaine (http://www.chandondebriailles.com/) é de propriedade da mesma família desde 1834, tendo como sede um belo prédio localizado na village de Savigny-les-Beaune. São 13 hectares de videiras distribuídas igualmente em três villages: Savigny-les-Beaune, Pernand-Vergelesses e Aloxe-Corton. A vinícola recebeu 2 estrelas, de um máximo de 3, do livro The Wines of Burgundy de Clives Coates. A produtividade é, em média, de 35 hectolitros por hectare. Os vinhos tintos são fermentados em tanques de concreto, enquanto os brancos utilizam barricas de carvalho. O amadurecimento dos vinhos tintos se dá em barricas de carvalho por um período entre 18 e 24 meses.

O domaine produz nove vinhos: dois premiers crus de Savigny-les-Beaune (Aux Fourneaux e Les Lavières); dois premiers crus de Pernand-Vergelesses (Ile des Vergelesses e Les Vergelesses); um premier cru de Aloxe-Corton (Les Valozières) e quatro grands crus de Corton (Les Maréchaudes, Les Bressandes, Le Clos du Roi e Le Charlemagne).

Nesta vinícola fomos muito bem recebidos, em uma visita exclusiva, pelo proprietário, François de Nicolay, que nos explicou a filosofia da casa e nos brindou com uma degustação, realizada entre seus barris no subsolo da vinícola, de seis de seus melhores vinhos. Destes, dois merecem destaque: Savigny-les-Beaune 1er cru Les Vergelesses 2006 e Corton Grand Cru Les Bressandes 2001.


Infelizmente, Nicolay não exporta para o Brasil!

Enquanto nos explicava suas técnicas e métodos, Nicolay soltou, ao se referir ao processo de fermentação, uma pérola: “aço inox é bom para leite e não para vinho”.

Domaine Michel Gros: Esta foi a terceira vinícola que visitamos (http://www.domaine-michel-gros.com/). É uma vinícola 3 estrelas do livro The Wines of Burgundy de Clives Coates e fica na região de Vosne-Romanee, possuindo 19 ha de videiras. Esta vinícola também possui uma boa gama de vinhos da Borgonha. Degustamos cinco vinhos, todos bons, com destaque para o vinho Vosne-Romanée 1er Cru Clos de Réas 2005.



O atendimento aqui, embora bom e também exclusivo, foi mais burocrático que aquele que recebemos na Chandon de Briailles.

Por fim, vale destacar também a visita ao Chateau Clos de Vougeot, principalmente pelo aspecto histórico.

Nesta etapa da viagem degustamos 25 vinhos, dos quais se destacaram os três listados acima.

Após deixar Beaune é hora de pegar novamente a rota dos vinhos e dirigir, parando obviamente nas principais villages, na direção de Beaujolais, próxima parada no nosso roteiro.

Mas isto é história para outro texto.

Para visualizar algumas fotos da viagem, visite o facebook ou http://picasaweb.google.com/jose.marcos.brito/ViajandoPelaBorgonhaParteII

Abraço a todos,

Brito.

Um comentário:

  1. Oi Brito! Uma notícia que talvez seja do seu interesse:

    São Paulo tem evento de venda e degustação de vinhos neste fim de semana

    Para atender à demanda das festas de fim de ano, acontece neste fim de semana em São Paulo o evento Mundo Sommelier. Na feira, uma dezena de expositores vai apresentar mais de 100 rótulos de vinhos, além de acessórios.
    No evento, o público poderá comprar vinhos com desconto e degustar amostras.
    A feira acontece no hotel Caesar Park Faria Lima, na Vila Olímpia. O ingresso custa R$ 40 nos dias do evento e R$ 30 para compras antecipadas.

    Mais informações no site do evento: http://www.mundosommelier.com.br/

    QUANDO: dias 11 e 12, das 11h às 18h
    ONDE: Caesar Park Faria Lima (rua Olimpíadas, 205, Vila Olímpia, tel. 0/xx/11/8252-3435)
    QUANTO R$ 30 (antecipado) e R$ 40 (nos dias do evento)

    Abraço!

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