sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Robert Parker, Wine Spectator, Decanter, Considerar ou Não?

Robert Parker, Wine Spectator, Decanter, Considerar ou Não?
Estava em uma degustação especial na principal loja de uma das grandes importadoras do Brasil e ouvi de um dos gerentes da loja: “deixa eu falar a pontuação do vinho, pois brasileiro gosta de pontuação”!

A fala, obviamente, foi de ironia e crítica ao hábito de olharmos para as pontuações que os vinhos obtiveram nas revistas especializadas (Wine Spectator, Robert Parker, Decanter) para decidir se os compramos ou não.

Mas afinal, este é um hábito saudável ou que nos limita em termos de experimentação sensorial? O que é um vinho bom, afinal? Como devemos proceder para decidir sobre a compra de um vinho?

O mundo do vinho é infinito! Há dezenas (ou centenas) de milhares de vinhos diferentes, não só no rótulo, mas também nos aromas, na qualidade, na complexidade e no preço. Ou seja, quando estamos nos referindo aos bons vinhos, não há produtos iguais. Então, em um cenário de tanta oferta, qual vinho você deve comprar?

Este cenário se agrava pelo fato de cada importadora trabalhar com um conjunto exclusivo de rótulos (quase sempre), o que impede a comparação dos preços e, consequentemente, a definição de qual importadora oferece a melhor relação custo/benefício. Para ilustrar esta questão, há importadoras no Brasil que praticam preços em torno de duas vezes o preço do vinho na origem e há quem pratique um preço seis vezes o preço original do vinho!

Obviamente que vinho bom é aquele que você gosta. Mas com infinitas opções, aquele vinho que você já tomou algumas vezes, e que gosta, é realmente a melhor compra? Provavelmente não!

Toda vez que vou a Paris faço uma visita à loja Lavínia, que considero uma das melhores da cidade. Esta loja possui mais de 5.000 rótulos de dezenas de diferentes países! Se você é um grande bebedor de vinho e bebe 4 garrafas por semana, levaria 1.250 semanas, ou algo em torno de 24 anos, para experimentar toda a gama de vinhos oferecida por uma única loja!

Uma única grande importadora brasileira tem mais de 1.000 rótulos em seu catálogo; de novo, com 4 garrafas por semana, você levaria algo em torno de 5 anos para experimentar só os vinhos desta importadora!

Ou seja, experimentação pessoal não é uma boa estratégia para definir a melhor compra no mundo dos vinhos.

Se experimentação pessoal não é a melhor estratégia, o que fazer? Entrar na loja e comprar o vinho que o vendedor quer te vender? Certamente não!

Há um mundo de profissionais que vivem de analisar a qualidade dos vinhos, representados pelas principais publicações existentes no mundo: Wine Spectator, Robert Parker e Decanter. Porque não utilizar este conhecimento especializado?

Seu dinheiro é, infelizmente, limitado. Você tem, por exemplo, R$ 250 para gastar em um bom vinho. Vai a uma grande loja e verifica que há dezenas (ou centenas) de vinhos que cabem no seu orçamento. O vendedor te indica o vinho X e você compra. Esta foi realmente a melhor compra possível? A resposta de novo é não!

Embora alguns vendedores critiquem o sistema de pontuação das melhores revistas (em geral aqueles das importadoras que não possuem bom desempenho nestes quesitos), eu acredito que este ainda é o melhor método para definir a compra dos vinhos. Vou dar um simples exemplo: com os seus R$ 250 há possibilidade de comprar um vinho de 87 pontos e um vinho de 95 pontos; dado que você não conhece nenhum dos dois, qual você compraria?

Minha conclusão sobre este tema é simples: se você não é um grande especialista, siga a crítica e você sempre fará a melhor compra. No entanto, isto não significa que você não possa e não deva fazer experimentações fora deste universo, pois talvez você fosse gostar mais do vinho de 87 pontos do que do vinho de 95 pontos, mas é melhor que estas experiências sejam feitas em ambientes de degustações e feiras de vinhos, nos quais você consegue experimentar uma grande variedade por um custo razoável e, a partir dessas experiências, ir montando a sua lista de preferência pessoal.

Eu, particularmente, utilizo os seguintes critérios para definir minhas compras:
  1. Em todas as degustações e feiras de importadores que participo, anoto aqueles vinhos que mais me impressionaram e os coloco em minha lista de compra. Esta anotação independe da crítica, pois reflete o meu gosto pessoal, com a vantagem que não tive de comprar uma garrafa do vinho para estabelecer minha opinião sobre o mesmo.
  2. Ao receber os catálogos das principais importadoras, faço uma grande tabela que reflita a pontuação e o custo de cada vinho. Analisando esta tabela (em função da uva, região e país), defino os vinhos com a melhor relação qualidade/preço disponíveis no mercado nacional.

Só compro vinhos com base nestes dois critérios e, eventualmente, com base na opinião de algum amigo cujo gosto pela bebida eu considere relevante.

Avalio cada vinho que compro e, a partir dessas avaliações, vou montando uma lista permanente de compra por faixa de preço, país e uva. Esta lista está em constante construção e nunca deixo de continuar provando novos rótulos, utilizando os dois critérios acima.

Para finalizar, se o vendedor de uma loja quiser te vender um vinho de 87 pontos por R$ 250 e você sabe que existe outro vinho, da mesma uva, do mesmo país, com o mesmo preço, mas com 95 pontos, mande este vendedor passear, que ele está querendo te enganar e não te livrar de uma “ditadura” das revistas especializadas, como alguns argumentam.

Abraço a todos,

Brito.

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